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Leitura literária e os aspectos de religiosidade em Dom Casmurro.

Muito já foi dito sobre a religiosidade em Machado de Assis, e mais ainda foi dito por esta obra chamada Dom Casmurro. Capitu e Bentinho são personagens que integram o folclore literário nacional. Personagens históricos que rompem a barreira do tempo. E o que podemos dizer a mais sobre a religiosidade neste clássico da literatura?

Para abordar por um ponto de vista bem atual, vamos fazer um simples exercício de analytcs, como o google costuma fazer com tudo. Neste livro, a palavra “Deus” aparece 78 vezes; “diabo”, 13 vezes; “missa”, 32 vezes; “padre”, 124 vezes; “sacristão”, 10 vezes; “igreja”, 22 vezes; “reza” apenas 6 vezes; “satanás”, 6 vezes; “céu”, 64 vezes; “inferno”, 5 vezes. Curioso constatar que Jesus, Cristo, cristão e fé não aparece no livro.

Parece haver muito mais conexão do texto com a formalidade da igreja do que com a transcendência da religiosidade. O foco nos costumes e comportamentos repetitivos e sem reflexão real parece prevalecer como uma forma de crítica a sociedade da época. A seguir um trecho do livro: “Verdade é que cada um sabe melhor de si, continuou tio Cosme- Deus é que sabe de todos.”. Frase feita que extravasa o egoísmo do individuo e o seu distanciamento para com Deus.

Em outro momento parece haver uma velada crítica a religiosidade em “Mas, você curou das outras vezes. —Creio que sim; o mais acertado, porém, é dizer que foram os remédios indicados nos livros. Eles, sim, eles, abaixo de Deus. Eu era um charlatão...”. Enquanto ser humano que cria suas próprias soluções, o personagem é apenas um charlatão. Depende totalmente dos livros, quer dizer, da ciência, que realmente resolve os problemas, já que Deus está tão acima, que não intercede entre nós para resolver qualquer que seja a situação.

E assim vai. Este livro é muito rico em menções a religiosidade, e quase sempre de forma velada em negatividade. Tudo porque era cobrado dos pequeninos as maiores provas de fé, mesmo sendo tudo isto incompreensível para estes. “O mundo também é igreja para os bons...”, nesta expressão o autor questiona a necessidade da religiosidade para se tornar um ser humano qualificado pela bondade.

A leitura literária, como é dita sobre esta leitura analítica em relação aos conteúdos escondidos no texto, apresenta-se como uma atividade de grande valor para o crescimento intelectual do leitor. A busca do entendimento de tantos nuances históricos e de contexto apresentados no livro acrescentam conhecimento a quem estuda. Aconselho a todos que leiam livros não como um conjunto de palavras para passar o tempo, mas como um conjunto de ideias para acrescentar o intelecto.

Autor: Arnold Gonçalves


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