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A sobrevivência da cultura indígena no Brasil Contemporâneo.

Se a nossa cultura urbana muda constantemente tornando-se completamente diferente de como era a algumas décadas, imagina só como se dá a mudança no que diz respeito a cultura indígena. Eu, enquanto um típico habitante urbano das maiores cidades brasileiras, tendo a imaginar romanticamente um mundo indígena totalmente diferente do que provavelmente o é. Mas, exercitando a razão, a menos que haja uma ruptura radical na forma geral do ser humano viver socialmente, os índios terão necessariamente que se ajustar a forma de viver predominante, ou serão simplesmente eliminados.

Este sentimento de que há necessidade de se adaptar para sobreviver já é visível. Prova é a crescente emigração de indígenas das tribos para as cidades em busca de formação acadêmica. Muitos deles estão retornando para auxiliar o restante do grupo na adaptação à nova forma de viver, mas, muitos também não retornam e se incorporam a sociedade urbana. Além dos que saem para estudar, há aqueles que saem rumo às cidades para vender toda sorte de produtos artesanais, e muitas vezes não retornam, tornando-se índios urbanos, uma nova classe de excluídos dentro de nossa sociedade “civilizada”.

A sobrevivência da cultura indígena atual é impossível, e resgatar o que foi no passado, nem com projeto genoma. As estatísticas dão conta que eram cinco milhões de índios quando do descobrimento, hoje, com muita boa vontade, setecentos mil. Contando aí quase metade já bastante “aculturada” pelo processo civilizatório europeu. Foi um dos maiores genocídios da história humana, se não, o maior. Ainda hoje, boa parte da população quer vê-los pelas costas, bem longe, ou... bem mortos. Então, a sobrevivência cultural está dependente da principal sobrevivência, que é a dos próprios indígenas.

O movimento indígena organizado tem início na década de 1970, o qual, só não tem a quarta palavra “resistência”, porque o pessoal da ditadura pensaria que era comunismo e os varreriam da face da terra. E este movimento multiétnico é, de fato, um movimento de resistência, que obteve alguns sucessos às custas de muito sangue e vidas perdidas ao longo destes quase cinquenta anos. Para se ter uma ideia, na década de 1970 todos nós assistíamos filmes de faroeste onde matar índio era como matar baratas, viu... mata.

Felizmente, o futuro parece mais promissor aos povos remanescentes, e algumas poucas etnias estão em franca ascensão. Vemos uma retomada do orgulho e tradições indígenas, e em breve veremos atitudes públicas de auto estima de algum “nativo-descendente” ao atingir algum destaque nacional, como vestir uma camisa “100% índio”. Para este futuro há de haver ainda muita mudança, adaptação e reconhecimento da sociedade; mais de 90% dos territórios indígenas estão na Amazônia, o restante do país ainda fecha os olhos e deixa seus índios nas beiradas da estradas e vielas das cidades quase que como vagabundos pedintes. Nunca haverá a “Ordem e Progresso” enquanto não se ouvir a voz dos excluídos.

Autor: Arnold Gonçalves


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