TEMA

Vida

Tipo uma poesia sobre a vida do começo ao fim

Normalmente eu faria uma poesia nova “Sob Encomenda”, mas quando li o pedido da amiga Patricia da cidade de Bom Jesus da Lapa, tive a intuição imediatamente. “- Já escrevi sobre isso, e da forma que ela está colocando.” Então fui buscar em meu livro “O estado das coisas” e está aí. Creio que ficou perfeito para a solicitação.

INFÂNCIA

Brincando de ser feliz

Anjos!
Imagens de crianças relaxam nossas almas
Imagens de crianças nos tornam mais amáveis
Imagens de crianças fazem sorrir até injustiçados
Imagem de criança é pausa na dura realidade

Pense, as crianças estão aprendendo a ser gente
Mas por enquanto agem e falam naturalmente
Transmitem a clarividência de um mundo perdido
Pense que esse mundo poderia ser o éden passado

Anjos!
Sem as asas, sem o paraíso

Andam confiantes sem medo de precipícios
Falam o que pensam sem medo de mal-entendidos
Aceitam tudo que lhe dão pelo sentido da comunhão
Cedem o que é seu, dividem de verdade o pão

Pense, um adulto andando como criança
Pense, um adulto falando o que pensa
Pense, um adulto dividindo os esforços
Pense, a verdadeira unidade humana

Anjos!
Mais perto de Deus do que da realidade adulta
A cada brincadeira uma nova realidade imaginária
Possibilidades de como poderia ser nosso mundo
Num misto de céu e inferno.

ADOLESCÊNCIA

A era da autenticidade

Imagem do céu, imagem cândida
Pura como a alma dos que não nasceram
Clara como a memória dos que nunca mentiram para si próprios
Imaculada como a moral de um mártir anônimo
Ingênua como a criança nos primeiros passos
Sem a malícia dos que já pensaram em traição
Sem a mancha dos que se corromperam espontaneamente
Inocente como o coração de um arrependido

Perde-se a vida por sonhar assim
Por buscar alguém que aí se encaixe
Perde-se a vida por sonhar assim
Por tentar se enquadrar nesta moldura
Ganha-se a batalha por viver assim
Por encontrar alguma forma de justiça
Ganha-se a batalha por viver assim
Por sonhar que no mundo há algo correto

Imagem da terra, imagem sombria
Pura como a alma dos que vagueiam
Clara como a memória dos que criaram suas verdades
Imaculada como a moral de um mártir ilustre
Ingênua como a criança aos noventa anos
Sem a malícia dos que não descobriram a traição
Sem a mancha dos que se suicidaram para não se corromperem
Inocente como um condenado à beira da injeção letal
Ganha-se a vida por sonhar assim
Por criar o espaço onde todos se encaixam
Ganha-se a vida por sonhar assim
Por se enquadrar facilmente nesta moldura
Perde-se a batalha por viver assim
Por assumir que a realidade é injusta
Perde-se a batalha por viver assim
Por assumir que o mundo é assim mesmo

É assim a época da adolescência
Oscilação entre o que se quer
E o que se deve fazer na vida
Mudanças de objetivos e desejos
Sempre que algo de novo acontece
Um interminável conflito íntimo
Entre os benefícios de participar da hipocrisia
E os malefícios de respeitar os próprios ideais
Será que a sociedade está certa em enterrar
Apagar a inocência vinda da infância
Para formar um adulto insensível e responsável
Tornando a adolescência um inútil meio-termo
Entre o mundo da brincadeira e da realidade?
Tempo de se esquecer verdades e aprender maldades
Se nessa época não fosse ensinado a ser esperto
E sim aprimorar ingenuidades, um mundo de otários!

MATURIDADE

O centro do universo

Quem? O centro do universo? No planeta terra?

Vou contar-lhe uma história

Um ser que acordou certo dia

Mas não refletiu

E viu o reflexo a sua frente

Não percebeu o fraco

Forte, viril, invencível criação

Já quis ser maior

Subiu num pedestal e gritou:

Não mediu o todo

“Sou o centro desse universo”

Pensou poder demais


Aqui sei e tudo posso

Começou a criar um novo mundo

Dar coordenadas, ordenar as coisas

Esqueceu o que é ajuda

Criticar fracos, eliminar fortes

Assumiu o eu absoluto

Construir a sociedade virtuosa

Acreditou ser inesgotável

Aproveitar sua energia não virtual

Pensou-se criador

Tornar-se exemplo aos vindouros

O verdadeiro Deus


Centro de referência do universo

O homem? Em sua maturidade? A medida de todas as coisas?

Só esquece...

Não há centro

Qual universo

Quem ele é

E todos, a terra

Quantas medidas

Para quantas coisas

Que não sabe identificar

Mas não esquece...

Vai envelhecer

E morrer

Fora do centro

Num universo.

VELHICE

Última chance para se humanizar

Você já reparou que quase sempre
Quem ajuda os outros já envelheceu?

As pessoas nascem e crescem
E os olhos sempre voltados ao umbigo
Só quando estão velhos acordam
Acreditam que a vida é para servir
Ajudar o próximo é progredir
Então se aproximam das igrejas
Recolhem fundos para os necessitados
Oferecem apoio aos que não têm força
Até que se sintam aliviados do peso

A velhice põe cada ser no seu lugar
Um contrário bastante constrangedor
Experiência digna de respeito
Num corpo fácil de dar risada
Há alguns que tentam resistir
São expostos ao ridículo juvenil
Há outros que tentam desistir
Acabam humilhados pelo corpo doentio
Mas aqueles que aceitam Deus
Na expressão perfeita da natureza
Atingem a meta final pretendida
Servir ao próximo é energético
Dá ao velho sensação de utilidade
Alguma importância no meio social
Onde normalmente é problema
Aquele que esqueceu de morrer
Ajuda ao próximo é auto-ajuda
Elevação da estima pelo viver
Resultando em saúde física
E humanização espiritual.

Autor: Arnold Gonçalves


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