No Brasil colonial, o mundo rural reinava sobre o urbano. Nessa época, a qualidade de vida era melhor na fazenda do que na cidade. Mesmo sem as melhores condições, a vida na cidade já apresentava uma característica fundamental, o relacionamento social. Estar na cidade facilitava o sucesso dos negócios. Por isso, uma boa parte dos senhores mantinham casa na cidade, e lá permanecia com sua família por um período do ano.
Nas cidades, as residências tinham a forma de grandes blocos, maciços e retangulares. No geral, eram caídas. Construídas uma ou lado da outra, praticamente com os mesmos materiais, dimensões, fachadas e altura. Davam uma forte impressão de monotonia e concentração. A ausência de árvores nas ruas, praças e jardins domésticos aumentavam esse sentimento. A uniformidade e monotonia das moradias e cidades refletiam o mundo escravista; autoritário, simples, rígido e rústico. Proprietários brutais e cativos brutalizados eram os dois pilares desse universo.
As elites moravam principalmente nos sobrados. Em geral, eles tinham dois pisos, mas há comprovação de cinco, em Recife. Os sobrados continham geralmente duas peças por andar, iluminadas por grandes portas e janelas que davam para a rua ou quintal. A altura de cada andar chegava a ultrapassar os quatro metros, talvez para facilitar a circulação de ar ou acústica. A peça da frente do andar térreo era usada como loja, oficina, depósito ou estribaria. A peça de trás era usado como cozinha, área de trabalhos diversos e dormitório de escravos. O chão do andar térreo normalmente era de terra batida. A peça da frente da andar superior destinava-se a vida social, reuniões e jantares. A peça de trás era reservada para os aposentos da família. Comumente era feita uma peça intermediária sem comunicação externa, chamada de alcova, era usada como um aposento protegido contra atentados. O chão geralmente dispunha de assoalho.
Todo o trabalho doméstico cabia aos escravos. Atente que na época não havia fornecimento de água, rede de esgoto, energia elétrica, gás, etc. A água tinha que ser buscada na fonte, os excrementos deviam ser jogados em locais previamente indicados pelo governo, e o não cumprimento a risca levava o escravo ao sofrimento do açoite ou coisa pior. Cabia a Senhora comandar os escravos. O Senhor concentrava-se nos negócios. As crianças e jovens pouca ou nenhuma importância apresentavam para esta organização familiar, eles treinavam para serem futuros Senhores e Senhoras.
A casa térrea era usada como moradia e local de trabalho de pessoas livres e pobres. A peça da frente destinava-se à atividades comerciais e produtivas, assim como à recepção de hóspedes. A peça de trás servia como dormitório e sala de estar para as mulheres. A cozinha era geralmente num pequeno puxado anexo a peça de trás da casa. O piso normalmente era de chão batido. Esse painel demonstra que a família ou pessoas livres, porém, sem poder econômico, tinham que fazer todo o trabalho que os escravos faziam no sobrado. O homem pobre tinha a liberdade como o seu maior bem.
Fonte:
Livro: O escravismo no Brasil
Autor: Mário Maestri
Atual Editora - 5. edição - 1997
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