Pergunta: Quando e como firmou-se o romantismo em Portugal?

O adjectivo "Romantic" é de origem inglesa, e deriva do substantivo "romaunt", de origem francesa ("roman" ou "romant"), que designava os romances medievais de aventuras. Depois a palavra generalizou-se a tudo aquilo que evocava a atmosfera desses romances (cavalaria e Idade Média, em geral). No séc.XVIII Rousseau (filósofo da revolução francesa) distinguiu "Romantique" (romântico) de "Romanesque" (romance), e no séc.XIX Frederico Schlegel (alemão) e Madame de Stael (alemã casada com um francês) opunham "Romântico" e "Clássico". Já a etimologia do termo indigita o gosto das tradições medievais e cultura folclórica.

Em Portugal o processo de instauração do romantismo foi lento e incerto. A implantação do romantismo em portugal ocorre num contexto sociopolítico. São os anos posteriores às invasões francesas, que tinham originado o refúgio da corte portuguesa no Brasil. O romantismo português não se pode dissociar da Revolução Liberal de 1820, da derrota dos absolutistas e das reformas institucionais.

Segundo alguns autores o romantismo afirmou-se em Portugal como uma cultura de importação (Inglaterra, França e Alemanha). Os exílados, Garrett e Herculano, foram os precursores do romantismo.Em 1825 Garrett publicou o poema Camões que passa a ser considerado o ponto de partida para o romantismo português.Surgimento a partir de 1836 como escola, com as suas publicações e com o seu público.

Em Portugal, a revolução na literatura é consequência da revolução política de 1832-34 (o romantismo português forma-se à luz dos princípios de liberdade, igualdade e fraternidade - dimensão um pouco idealista). Almeida Garret publica em Paris (onde estava exilado, o que lhe permitiu o contacto com o Romantismo Europeu), em 1825, "Camões", mas suas obras só tiveram repercussões depois do regresso do emigrado. Daí delimitar-se mais habitualmente o início do Romantismo em Portugal com a publicação de "A Voz do Profeta", de Alexandre Herculano (1836). O êxito fulminante de Herculano e Garrett, e o esquecimento rápido e geral em que caíram os géneros clássicos, mostram como esta revolução era uma necessidade do público português.

Ideologicamente, o Romantismo Português é antifeudal, mas procura limitar as consequências da revolução; é liberal, mas antidemocrático (opõe-se ao sufrágio nacional e favorece o regime censitário apropriado ao domínio político da nova burguesia rural). Herculano é um defensor dos monumentos nacionais e do cristianismo medieval, e Garrett, apesar de ser de esquerda (Setembrista), pertencia a uma facção moderada.

Como o público do romantismo não tem grande preparação literária, ignorando as convenções e padrões da literatura clássica (mitologia, história antiga, retórica, etc), e preferindo a expressão concreta imediatamente acessível das imagens e símbolos que dão corpo bem sensível ao pensamento (realismo descritivo), as principais características românticas, adaptadas ao seu público, são: estilo declamatório, por vezes redundante e um pouco vago, em que a abundância prejudica a concisão e o rigor; o gosto das hipérboles (aproximando-se do Barroco), das exclamações e imagens, que concretizam e popularizam; o uso de vocabulário mais rico em alusões concretas, menos selecto e mais correntio, familiar e sensorial; presença física das personagens humanas e das paisagens; o recurso ao romanesco. à peripécia que prende a imaginação; o tom de mensagem ao próximo das obras, convertidas em meios de comunicação e não já um mundo fechado de valores.


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