Uma história para se contar

Autor: Makuí Oliveira

Contato: ma_je_may@hotmail.com

Capítulo 1
CENA 1. MANSÃO DOS MELO ALMEIDA. JARDIM. EXTERIOR. DIA.
Tereza e Carlos tomando café da manhã, à espera de seus filhos, Mardos, Fábio e Bruna.
TEREZA – Esses meninos demoram tanto a descerem dos quartos.
CARLOS – E você ainda se incomoda com isso, Tereza? Já até me acostumei. Desde pequeninos eles fazem isso. Lembra?
TEREZA – (nostálgica) Como se fosse hoje. Passou tão rápido aquele tempo em que nossos filhos eram apenas inocentes crianças. E hoje eles estão aí, crescidos, adultos e independentes.
CARLOS – Mas que ainda moram com a gente...
TEREZA – Eu gosto de ter nossos filhos aqui com a gente, Carlos.
CARLOS – Eu também. A minha sensação é que eles ainda são aquelas crianças que choravam e riam por qualquer coisa, sabe?
TEREZA – Também tenho essa mesma sensação, meu amor.
CARLOS – Agora, eles não têm mais medo de estarem no escuro...
TEREZA – Nem sós.
Mardos, Fábio e Bruna vão se aproximando e sentam-se à mesa.
MARDOS – Não temos mais medo do quê, hein, pai?
FÁBIO – Eu também escutei o que o senhor falou, papai.
CARLOS – Que vocês demoram muito a descerem dos quartos.
MARDOS – E...?
CARLOS – E que vocês três não têm mais medo do escuro.
BRUNA – Que conversa nostálgica logo pela manhã, papai.
CARLOS – Bateu uma saudade de quando vocês eram crianças.
MARDOS – Ih... Tô vendo que o senhor Melo Almeida acordou todo nostálgico hoje.
FÁBIO – Realmente você tem toda razão, Mardos.
TEREZA – Acordamos nostálgicos hoje, meus filhos.
BRUNA – Até a senhora, mamãe?
FÁBIO – Nostalgia à parte... Hoje tenho uma reunião importantíssima no shopping. Acho que vamos conseguir mais três patrocinadores para aquele projeto que havia falado a vocês.
TEREZA – Que coisa boa, meu filho! Vai dá tudo certo. Vocês irão conseguir!
CARLOS – É assim que gosto de ver, Fábio, cada vez mais empreendedor e investidor naquilo que você acha válido. Eu estou na torcida, meu filho!
BRUNA – Te desejo muita sorte, maninho!
MARDOS – (irônico) Não me diga, maninho... Sorte lá, tá?!
FÁBIO – Poupe-me de sua ironia barata, Mardos!
MARDOS – (irônico) Que isso, Fábio? Maninho, eu nunca fui tão verdadeiro.
FÁBIO – Ahã. Sei.
BRUNA – Liga pra esse recalcado não, Fábio. Mardos é um depravado mesmo.
MARDOS – Depravado?! Olha aqui, sua…
TEREZA – (intervir) Nem termine essa frase, Mardos! Será possível, uma vez na vida, tomarmos o café da manhã em paz, meus filhos?
BRUNA – Deixa ele terminar, mamãe. Quero saber o que sou para o Mardos.
TEREZA – Bruna! Por favor, não começa!
MARDOS – (bem irônico) Eu só ia dizer, irmã querida, que você é um doce de pessoa.
TEREZA – Melhor assim, Mardos. (à Mardo e Bruna) Podemos tomar o café da manhã em paz agora?
BRUNA – Sim, mamãe. E desculpa.
MARDOS – Claro, mãe. Desculpe-me.
CARLOS – Acho que a melhor forma de vocês dois se desculparem à mãe de vocês é um pedir desculpa ao outro.
MARDOS – Pai... Foi a Bruna que começou! Ela, sim, que deveria me pedir desculpas.
BRUNA – O papai tem razão, Mardos. Você me desculpa?
MARDOS – Mas…
TEREZA – (à Mardos) Por mim, vai, filho.
MARDOS – Tá bom, mãe. Eu te desculpo, Bruna.
CARLOS – Agora é a sua vez, Mardos.
MARDOS – Minha vez? Minha vez de quê, papai?
CARLOS – Não se faça de bobo, meu filho. Vamos encerrar com essa discussão sem sentido. Peça logo, peça.
MARDOS – Tudo bem. Me desculpa, Bruna?
BRUNA – Sim, Mardos.
FÁBIO – (irônico) Êêêê!!! As crianças fizeram as pazes. Que lindo!
CARLOS – Agora será que podemos terminar de tomar o café?
TEREZA – Claro, querido. (à Mardso, Fábio e Bruna) Podemos, né, meus filhos?
BRUNA – Sim.
MARDOS – Por mim...
FÁBIO – Eu é que não quero ter uma indigestão com esse café da manhã. Estou relax, mamãe.
Todos em silêncio retomam o café da manhã na santa paz. Tempo no café.
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CENA 2. PONTO DE ÔNIBUS. EXTERIOR. DIA.
Bardo esperando o ônibus. Um conhecido seu se aproxima.
HOMEM – Bom dia, Bardo.
BARDO – Bom dia.
HOMEM – Tudo bem?
BARDO – Tudo bom. E você?
HOMEM – Vou bem. Indo para o trabalho?
BARDO – Não. Vou pra faculdade.
HOMEM – Eu também tenho uma vontade de me formar um dia. Mas até agora não deu. São tantos cursos hoje, né? Que nem sei qual escolheria. Cursa qual curso?
BARDO – Começarei hoje a cursar Comunicação Social. Meu primeiro dia de aula.
HOMEM – E em qual faculdade você vai estudar?
BARDO – Melo Almeida.
HOMEM – Nossa, é uma das melhores de Natal, quiçá, do Rio Grande do Norte, Bardo!
BARDO – Você tem toda razão. Eu conseguir uma bolsa de estudos lá.
HOMEM – Parabéns! Você é uma pessoa determinada mesmo. Não deixou nada te impedir de conquistar mais esse sonho.
BARDO – Que agora virou realidade. Mas, sabe... Eu estou um pouco receoso...
HOMEM – Receoso? Como assim? Você conseguiu uma bolsa numa das melhores faculdades desta cidade, e está receoso? Deve ser porque você batalhou tanto que está com medo que dê alguma coisa errada, é isso?
BARDO – Não é medo. Sei lá! É que estou um pouco, como te disse, receoso. Mas não é por ser meu primeiro dia de aula e sim pelo que me aguarda lá.
HOMEM – Confesso que não entendi o que você quis dizer, Bardo, mas te desejo muita boa sorte.
BARDO – Obrigado. (vê o ônibus chegando) Vou nesse.
HOMEM – Tchau, Bardo. Bom início lá.
BARDO – Obrigado mais uma vez. Até mais.
Bardo entra e o ônibus dá partida.
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CENA 3. CASA DE MERCEDES E MARCELA. SALA. INTERIOR. DIA.
Marcela pronta para sair. Pega o material e a bolsa. Está atrasada para ir pra faculdade.
MARCELA – Tchau, mãe.
MERCEDES – Filha, come alguma coisa, meu amor.
MARCELA – Não dá. Estou atrasada. Se preocupa não que me viro lá na lanchonete, mãe.
MERCEDES – Falou com seu primo?
MARCELA – Sim. É hoje que o Mardos enfarta de raiva.
MERCEDES – Filha!
MARCELA – Brincadeira, mãe.
MERECEDES – Tem certeza que não vai comer nada?
MARCELA – Tenho, mãe. Beijo. Tchau.
MERCEDES – Boa aula, filha. Cuidado.
MARCELA – Fui!
Marcela sai. Reação de Mercedes.
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CENA 4. APARATMENTO DE MURILO E DÉBORAH. SALA. INTERIOR. DIA.
Reunidos à mesa, Murilo, Débora e Israel tomam o café da manhã.
MURILO – Tá uma delícia esse pão! Foi a Mercedes quem fez, Déborah?
DÉBORAH – Tá mesmo, meu bem. Não foi a Mercedes que fez não. Eu comprei esse pão aqui nessa padaria vizinha.
MURILO – Hum. E cadê ela?
DÉBORA – Ela pediu para chegar mais tarde hoje, Murilo.
MURILO – E você deixou...
DÉBORAH – Sim, meu amor, deixei. Algum problema?
MURILO – Claro, Déborah!
DÉBORAH – Por quê?
MURILO – Déborah, a Mercedes é a nossa empregada. Tem deveres e horários a serem cumpridos. Não pode ser assim. Vem mais tarde hoje, depois mais tarde ainda e depois e depois, até se tornar uma coisa corriqueira. Não quero mais que isso aconteça!
DÉBORAH – Meu amor, é da Mercedes de quem você está falando mesmo? Eu sei que ela tem suas obrigações, seus horários, mas a Mercedes já é da família. Ela já está com a gente há tanto tempo. Sempre fez tudo direito e continua fazendo. Não sei por que você tá reagindo desse jeito só porque deixei ela chegar mais tarde.
MURILO – É essa sua mania de dá muita confiança aos de fora que me irrita, Déborah! Ela pode até fazer parte de sua família, minha paixão, não da minha. Só vou dar mais uma dica: não confie cegamente nos outros.
DÉBORAH – Isso serve para você também, então?
MURILO – Só você quem pode dizer se sim ou não.
DÉBORAH – Vamos parar com esse assunto. Só quero frisar uma coisa: a Mercedes vai continuar contando comigo se precisar de alguma coisa. Seja por precisar chegar mais tarde ou algo parecido.
MURILO – Ok, minha querida. Só depois não vá dizer que eu não te avisei, tá?
ISRAEL – Pronto? Acabaram com essa conversa desnecessária?
MURILO – Que isso, meu filho? Isso é jeito de falar com seus pais?
DÉBORAH – O que houve, meu filho?
ISRAEL – Eu já tô cansado de quase todas as manhãs vê vocês dois discutindo por conta disso ou daquilo! Será que vocês dois podem pelos menos na hora do café não discutirem mais?
DÉBORAH – Você tá certo, meu filho. A mamãe e o papai vão parar de discutir na sua frente. Não é, papai?
MURILO – Por hora, sim. Não garanto nada, tá, meu filho? Mas, nesse exato momento não vou mais discutir com sua mãe, ok?
ISRAEL – Obrigado, papai. Obrigado, mamãe. Assim fica tudo mais tranquilo.
DÉBORAH – Você sempre está com a razão, meu filho.
MURILO – Dessa vez vou concordar com sua mãe, Israel. Agora vamos acabar com esse pão, filhão?
Vemos os três conversando fora de áudio animosamente, rindo, brincando. Tempo.
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CENA 5. HOSPITAL BOM CORAÇÃO. SALA DE CIRURGIA. CORREDOR. INTERIOR. DIA.
Na SALA DE CIRURGIA, Marcelo e sua equipe terminam mais uma operação.
MARCELO – Concluída com sucesso.
Corta para o CORREDOR, Marcelo e sua equipe comemoram por mais uma cirurgia bem sucedida.
MARCELO – Conseguimos, pessoal! Mais uma operação concluída com êxito total. Parabéns pra gente! Obrigado a todos vocês. Agora está na hora do nosso merecido descanso. Vamos nessa?
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CENA 6. MANSÃO DOS MELO ALMEIDA. JARDIM. EXTERIOR. DIA.
Termino do café da manhã. Carlos, Mardos e Bruna se preparam para saírem. Fábio e Tereza continuam à mesa.
CARLOS – Alguém vai comigo hoje para faculdade?
BRUNA – Eu vou com o senhor, papai.
MARDOS – Vou pegar uma carona com você, pai. Meu carro ainda tá na oficina, em revisão.
CARLOS – Ótimo! Podemos ir agora?
BRUNA – Sim, papai.
MARDOS – Claro.
CARLOS – Tchau, Tereza. (beija-a)
TEREZA – Tchau, meu amor. Bom dia!
CARLOS – Obrigado. Tchau, meu filho.
FÁBIO – Tchau, papai. Tenha um bom dia de trabalho!
CARLOS – Pra você também.
BRUNA – Tchau, maninho. Tchau, mamãe. (beija e abraça Tereza) Bom dia pros dois!
TEREZA – Bom dia, minha filha! Boa aula!
FÁBIO – Bom dia, maninha! Boa aula pra você!
BRUNA – Thank you!
MARDOS – Bom dia pra senhora, mãe! Tchau, Fábio.
TEREZA – Bom dia, meu filho! Boa aula pra você também!
FÁBIO – Tchau, Mardos. Bom dia.
MARDOS – Vamos, pai.
CARLOS – Vamos.
BRUNA – (à Tereza e Fábio) Beijo, beijo, beijo.
Carlos, Mardos e Bruna saem.
TEREZA – E lá no shopping, meu filho, tá tudo bem?
FÁBIO – Tá sim, mamãe.
TEREZA – Que bom.
FÁBIO – Está tudo ocorrendo como esperado.
TEREZA – Melhor ainda.
Continuação da conversa fora de áudio.
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CENA 7. CASA DE MARCELO. SALA. INTERIOR. DIA.
Marcelo entrando em casa. Vê seus irmãos reunidos à mesa do café.
GRAZIELA – Bom dia, Marcelo!
MARCELO – Bom dia, Gra! Bom dia, Daniel! Bom dia, Yann!
DANIEL – Bom dia, irmão!
YANN – Bom dia, Marcelo.
GRAZIELA – Vem tomar café com a gente.
DANIEL – Vem logo, mano!
MARCELO – Obrigado pelo convite, meus irmãos! Agora a única coisa que eu quero e preciso é ir para meu quarto e desabar na minha maravilhosa cama! O plantão foi barra pesada. Nossa, eu estou exausto!
GRAZIELA – Então vá descansar, meu irmão.
DANIEL – Bom descanso, Marcelo.
MARCELO – Obrigado, gente. Estou muito cansado. Bom dia pra vocês aí!
GRAZIELA – Até mais tarde, meu irmão.
MARCELO – Até, mana. Tchau pra vocês. (saindo).
GRAZIELA – Tchau.
DANIEL – Tchau, Marcelo.
YANN – Até mais, Marcelo.
GRAZIELA – Já não está na hora dos dois irem para a faculdade, não?
DANIEL (olha para o relógio) – Já estamos atrasados. Vamos logo, Yann.
YANN – Tchau, mana. Beijo.
DANIEL – Tchau, Grazi.
GRAZIELA – Tchau, meus irmãos. E bom primeiro dia de aula!
DANIEL – Obrigado.
YANN – Bom trabalho pra você também, mana.
GRAZIELA – Obrigado.
Yann e Daniel saem. Graziela continua à mesa tomando uma xícara de café.
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CENA 8. FACULDADE MELO ALMEIDA. PÁTIO. INTERIOR. DIA.
PÁTIO lotado. Alunos procurando informações, conversando, indo em direção as suas salas. Entrando e saindo. Até chegarmos a Bruna e Mardos que conversam. Marcela vai chegar.
BRUNA – Ansioso por mais um primeiro dia de aula, Mardos?
MARDOS – (grosso) É claro que não! Eu já estou acostumado com isso, Bruna. Você que é muito boba!
BRUNA – Grosso! Precisa falar assim comigo, cavalo?! Tomara que a Marcela esteja perto de chegar, sabe. A pessoa nem pode ter uma conversa agradável com você, Mardos.
MARDOS – Olha, eu ainda fico me perguntando até hoje por que você continua essa amizade com a Marcela. Depois de tudo que aquele primo dela nos fez, você ainda tem a audácia de continuar falando com ela.
BRUNA – Primeiro: a Marcela é minha amiga! Segundo: jamais deixarei de falar com ela. Terceiro: o Bardo não me fez nada! E quarto: para com essa obsessão! Você e todos nós sabemos que o Bardo não teve culpa nenhuma do que aconteceu naquele dia!
MARDOS – Não pronuncie o nome desse desgraçado na minha frente!
BRUNA – Pronuncio sim! Bardo, Bardo, Bardo. Eu é que fico tentando entender por que você colocou aí nessa sua cabeça oca que foi o Bardo o culpado pelo que aconteceu naquele dia. O que aconteceu foi uma fatalidade, Mardos. Ninguém teve culpa. Vê se tira isso da tua cabeça, meu irmão!
MARDOS – Nem você nem ninguém vão tirar da minha cabeça de que foi o Bardo o único culpado por tudo de ruim que aconteceu naquele dia, Bruna! Aquele desgraçado acabou com minha vida! Mas você, minha irmã, escreva o que eu estou te falando, você e todos irão ver que eu tenho razão na minha convicção com relação aquele maldito. Eu ainda irei conseguir provar que foi ele o culpado de tudo aquilo ter acontecido.
BRUNA – Não adianta de nada eu tentar te convencer do contrário. Eu só fico com pena de você, Mardos. Porque eu sei que um dia você irá se arrepender de ter colocado a culpa que nem existe numa pessoa inocente. E tenho dó de você nesse momento, no presente, pois até você se dar conta que está errado, estará todo corroído pelo ódio que guarda no teu coração.
MARDOS – Eu não me arrependo de nada que eu faço ou falo, Bruna. Quem ainda se arrependerá de não acreditar em mim é você. Você e todos aqueles que acham que é uma maluquice da minha cabeça vão ver que eu sempre tive razão na minha certeza. E aí, vai ser tarde demais para eu desculpar vocês.
BRUNA – Espero que você um dia volte a ser aquele Mardos que eu conheci. Aquele irmão carinhoso e amoroso que você era comigo e com o Fábio. Sei que foi aquela tragédia que te transformou na pessoa que você é hoje. Mas eu não me chateio mais com as atitudes tolas e sem sentido que você comete, pois eu já me acostumei com nova pessoa que tomou conta da sua vida, da sua personalidade, e consigo ter a compreensão que até hoje você sofre com tudo aquilo que aconteceu. É por isso que você se esconde atrás dessa máscara, essa que você colocou para se proteger do medo, do trauma e da decepção que possa vir.
MARDOS – Eu não me escondo por trás de máscara nenhuma, Bruna! Você só pode está louca para me dizer uma coisa dessas! Eu continuo a ser o mesmo Mardos de sempre. Foram vocês que mudaram a forma de olharem para mim. Eu só não demostro mais os meus sentimentos como antes, só isso. E pra mim, você está sendo sentimentalista demais. Para com isso, hein?! Chega de falar naquele desgraçado maldito!
BRUNA – Tá bom, meu irmão. Não vou tocar mais nesse assunto. Eu sei que você ainda sofre com essa história. Você, o Bardo e a Larissa eram tão unidos, não era?
MARDOS – Éramos. Chega, Bruna! Para! Para de falar dessa história! Chega!
BRUNA – Tá, Mardos. Se acalma, tá? Parei. Pronto.
Bruna vê Marcela chegando.
BRUNA – A Marcela chegou. Vou falar com ela, Mardos.
MARDOS (tosco) – Vai logo, vai! Vai lá ficar com sua amiguinha, Bruna.
BRUNA – Vou mesmo. Vou logo antes que você destile o resto do seu veneno em mim.
MARDOS – Sai de perto de mim. Vai, vai, vai. Sai, Bruna! Anda logo com isso!
BRUNA – É um tosco mesmo!
Bruna se aproxima de Marcela.
BRUNA – Oi, amiga! Que saudade que eu estava de você! (abraça Marcela).
MARCELA – Oi, amiga! Também estava com muita saudade sua!
BRUNA – Viajou nessas férias, Ma?
MARCELA – Sim. E você? Foi desta vez pra onde? New York, Paris, Londres?
BRUNA – (ri) Não desta vez, Ma. Fui ao Rio de Janeiro passar umas duas semanas na casa dos meus tios. Foi muito bom. E você viajou pra onde?
MARCELA (brincando) – Primeiro dei uma passadinha em Paris, depois fui a Londres, passei uma semana em New York e fui parar em Baía Formosa.
BRUNA – Que inveja branca, amiga! Tantos lugares. E que lugares!
MARCELA – Mas no final das contas... passei mesmo uma parte das minhas férias lá em Baía Formosa.
BRUNA – Uma praia linda! Eu adoro quando vou pra lá!
MARCELA – E o restante, passei em casa mesmo.
BRUNA – Agora que estamos mais próximas de novo, temos que colocar o papo em dia, Marcela.
MARCELA – Verdade, Bruna. E por falar em colocar o papo em dia, eu tenho uma novidade.
BRUNA – Novidade? Adoro! Conta.
MARCELA – É uma novidade que não irá agradar em nada ao seu irmão.
BRUNA – Como assim, Marcela? Não vai agradar ao meu irmão? Agora estou super curiosa.
MARCELA – Vou dar a primeira dica: você gosta dele. Eu também.
BRUNA – Eu gosto dele...
MARCELA – É da minha família.
BRUNA – Da sua família... (pensa) Não vai me dizer que o...
MARCELA – Ele mesmo! O Bardo vai estudar aqui com a gente.
BRUNA – Nossa! Jamais me passaria na cabeça que sua novidade era essa, Marcela.
MARCELA – O meu primo conseguiu a bolsa de estudo, Bruna. Eu estou tão feliz!
BRUNA – Que bom, Marcela! Fico feliz por você também, pelo Bardo. Mas estou imaginado como o meu irmão irá reagir quando souber disso.
MARCELA – Essa faculdade vai pegar fogo quando ele souber, Bruna.
BRUNA – Literalmente.
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CENA 9. SHOPPING NATAWAY. ESCRITÓRIO. ANTESSALA. EXTERIOR. INTERIOR. DIA.
Começamos essa cena com a frente do SHOPPING, onde vemos: SHOPPING NATAWAY. Letreiro bem feito e imponente.
Corta para dentro do SHOPPING. Planos gerais. Movimentação. Pessoas entrando e saindo das lojas, andando, conversando, sentadas nos bancos. Imagens de vitrines das lojas. Chegamos a Fábio que por ali anda. Tempo.
Corta para ESCRITÓRIO, Fábio chegando.
FÁBIO – (cumprimentando alguém) Tudo bem?
Corta para ANTESSALA. Fábio é recebido por sua secretária, Priscila.
FÁBIO – Bom dia, Priscila!
PRISCILA – Bom dia, seu Fábio!
FÁBIO – Tudo tranquilo por aqui?
PRISCILA – Tudo sim.
FÁBIO – Que bom então. Os meus relatórios já estão prontos?
PRISCILA – Sim, senhor. Estão como o senhor pediu.
FÁBIO – Obrigado.
PRISCILA – Os relatórios estão na sua mesa.
FÁBIO – Ligue pro Amparo Ambrósio e fale que a reunião será no dia 17.
PRISCILA – Qual horário?
FÁBIO – Será às 18 horas. E vai ser aqui mesmo na sala de reunião do escritório.
PRISCILA – Certo.
FÁBIO – Ah, e o Roberto vai chegar daqui a pouco. Assim que chegar, peça pra ele ir direto pra minha sala.
PRISCILA – Ok, seu Fábio.
Fábio sai. Priscila ao telefone.
PRISCILA – (tel.) Senhor Amparo?
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CENA 10. FACULDADE MELO ALMEIDA. PÁTIO. INTERIOR. DIA.
Yann e Daniel chegando, veem Mardos e se aproximam dele.
YANN – E aí, Mardos?
DANIEL – Como vai?
MARDOS – Que bom que vocês chegaram, meus amigos! Eu já estava ficando entediado em ficar aqui sozinho.
YANN – Como foi suas férias, meu amigo?
MARDOS – Foi legal. Viajei... E me divertir bastante. E vocês?
DANIEL – Fomos pra São Paulo.
MARDOS – Logo São Paulo, Daniel? Cidade cinzenta, fria.
DANIEL – Mas que tem muita cultura a ser descoberta, Mardos. Museus... História!
YANN – Isso é verdade!
MARDOS – Gente, vejo que vocês dois não sabem se divertirem nas férias, não! Podendo terem ido para o Rio, uma cidade quente, cheia de mulheres gostosas desfilando naquelas praias maravilhosas. E foram logo para São Paulo.
YANN – Pensando por esse ponto de vista...
DANIEL – Eu sei muito bem me divertir, Mardos. E gosto não se discute!
MARDOS – Ok, ok, Daniel. Mas me contem, vocês têm novidades?
YANN – Temos. E como temos, né, Daniel?
DANIEL – Muitas novidades, Mardos.
MARDOS – Começando a me contar agora!
YANN – Também queremos saber suas novidades.
DANIEL – Isso mesmo.
MARDOS – Primeiro vocês.
DANIEL – Você não vai acreditar no que seu amigo aqui, Yann, aprontou.
YANN – Nem tanto, Daniel.
MARDOS – Sério?
DANIEL – Sério! Foi assim...
Continuação da conversa ocorre fora de áudio.
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CENA 11. SHOPPING NATAWAY. ESCRITÓRIO. ANTESSALA. SALA DE FÁBIO. INTERIOR. DIA.
Roberto chegando à ANTESSALA.
ROBERTO – Bom dia, Priscila!
PRISCILA – Bom dia, senhor Roberto!
ROBERTO – Tudo bem com você?
PRISCILA – Sim. E com o senhor?
ROBERTO – Tudo ótimo, minha querida.
PRISCILA – O seu Fábio pediu que o senhor entrasse na sala dele assim que chegasse.
ROBERTO – Obrigado. Vou lá agora.
Corta para SALA DE FÁBIO.
ROBERTO – (entrando) E aí, meu amigo?! Como sempre, lindo!
FÁBIO – Para de tirar onda com minha cara, Roberto! Você é que continua lindo!
Os dois riem. Estão um brincando com o outro. De bom humor.
ROBERTO – Agora sério, Fábio. E como estão os preparativos para a reunião com o Amparo, hein?
FÁBIO – Tudo sob controle. Já pedir à Priscila para ligar pra ele dizendo o dia e a hora da reunião.
ROBERTO – Ótimo! Você acha que vamos conseguir convencê-lo a patrocinar o projeto e ainda convencê-lo a convencer os outros dois futuros patrocinadores?
FÁBIO – Estamos fazendo por onde isso acontecer, meu amigo. Sei que tudo pode acontecer nessa reunião, mas estou sentindo que vamos conseguir convencer os três patrocinadores.
ROBERTO – Otimismo é o que não nos falta.
FÁBIO – E espero que nunca nos falte, Roberto.
Corta rápido para:
CENA 12. NATAL. PLANOS GERAIS. EXTERIOR. DIA.
Clipe de aproximadamente 1 minuto para apresentação da cidade de Natal. Tomadas de helicóptero começando pela praia de Ponta Negra, ponte Nilton Navarro, Centro da Cidade, Alecrim e por último na avenida Prudente de Morais.
BRÍGIDA – (off) Droga!
Corta para:
CENA 13. AVENIDA PRUDENTE DE MORAIS. EXTERIOR. DIA.
Brígida em seu carro, irritada. Trânsito parado.
BRÍGIDA – (cont.) Ai que trânsito infernal! Só podia ser aqui mesmo nessa cidade! Devia ter continuado a morar em Paris mesmo! Cidade quente!
Celular toca. Vemos no visor a letra “M”. Brígida não atende. Fica mais irritada.
BRÍGIDA – Pra completar, mais isso agora! Vê se me esquece, praga! Tenho que arrumar um jeito de me livrar de você.
Corta rápido para:
CENA 14. MORRO DO MOSQUITÃO. GERAIS. CASA DE MALANDRA. SALA. EXTERIOR. INTERIOR. DIA.
Planos gerais da comunidade, sua ruas, pessoas andando, conversando na praça, crianças brincando, até chegarmos ao interior da SALA. Malandra com celular na mão.
MALANDRA – Como eu tenho raiva quando você não atende esse celular!
Corta rápido para:
CENA 15. APARTAMENTO DE MURILO E DÉBORA. QUARTO DO CASAL. INTERIOR. DIA.
Murilo desligando o celular.
MURILO – Pensa que vai escapar de mim só porque não atende esse celular, é? Mais não mesmo!
Corta rápido para:
CENA 16. MORRO DO MOSQUITÃO. CASA DE MACABRO. QUARTO. INTERIOR. DIA.
Deitado na cama Macabro olha para o celular.
MACABRO – Me deu o número do seu celular, mas toda vez que ligo não me atende.
Corta rápido para:
CENA 17. SHOPPING NATAWAY. ESCRITÓRIO. SALA DE FÁBIO. INTERIOR. DIA.
Priscila entrando na SALA.
PRISCILA – Já liguei pro senhor Amparo e ele confirmou presença na reunião, senhor Fábio.
FÁBIO – Ótimo, Priscila. Agora, por favor, não precisa ficar me chamando de senhor quando estivermos sozinhos.
PRISCILA – Mas o senhor é o meu patrão.
FÁBIO – Você sabe que eu adoro quando você finge ser uma funcionária “inocente”.
PRISCILA – Gosta é?
FÁBIO – E como!
PRISCILA – Bom saber.
FÁBIO – Vem aqui, vem.
PRISCILA – (se aproximando) Pra quê?
FÁBIO – Você já irá saber.
PRISCILA – (debruçada sobre a mesa) – Pronto. Já estou próxima do senhor.
FÁBIO – Se aproxime só mais um pouquinho.
PRISCILA – (sentasse no colo de Fábio) E agora, senhor? Está do seu agrado?
FÁBIO – Sim. Agora você fez tudo certinho, minha secretária.
PRISCILA – Fiz é? Então acho que eu mereço uma recompensa.
FÁBIO – Recompensa?
PRISCILA – Ahã.
FÁBIO – Já sei que tipo de recompensa você merece.
PRISCILA – Qual?
FÁBIO – Essa aqui, ó. (dá- lhe um beijão).
Tempo no beijo.
PRISCILA – Nossa! Que recompensa, senhor!
FÁBIO – Gostou?
PRISCILA – Quero mais!
Fábio derruba os objetos da mesa e deita Priscila sobre ela.
FÁBIO – É assim que você gosta, né?
PRISCILA – É desse jeito mesmo! Agora vem!
Fábio deita em cima de Priscila e a beija loucamente. Tempo.
Corta para:
CENA 18. MORRO DO MOSQUITÃO. CASA DE MALANDRA. SALA. INTERIOR. DIA.
Shaya aparece na SALA e assusta sem querer sua tia.
SHAYA – Sente raiva de quê, hein, tia?

Site do Escritor - comentário:

Identificação do elenco:
Tereza e Carlos Melo Almeida (dono da faculdade) - casal - ricos
filhos:
Mardos (estudante - mal educado e irônico - odeia o Bardo)
Fábio (trabalha no shopping Natway)
Bruna (estudante)
Bardo - estudante comunicação social (bolsa de estudos) - primo de Marcela
Homem - ?
Mercedes - empregada de confiança da Débora, mas não do Murilo
Marcela - conhece Mardos - amiga de Bruna
Murilo e Débora - casal que discute
Israel - filho
Marcelo e sua equipe - médico
irmãos:
Graziela
Daniel (estudante) e Yann (estudante) - amigos de Mardos
faculdade Melo Almeida - primeiro dia de aula
Larissa - amiga de Bardo e Mardos
Priscila - secretária e ficante de Fábio
Roberto - funcionário ou sócio
Amparo Ambrósio - possível patrocinador
Brigida - ex moradora de Paris
Malandra - moradora de morro - telefonou para Brigida ou Débora
Shaya - sobrinha

Comentário - Site do Escritor
Excelente! É uma pena que a Globo e as demais redes de tv não dão oportunidade aos novos talentos. Em apenas algumas cenas já se pode identificar vários conflitos (os irmãos Melo Almeida; Mercedes vs Murilo; Débora vs Murilo; e o principal Mardos vs Bardo) e vários enigmas (Malandra vs Brígida/Débora; Larissa; Patrocinador; Médico; Homem(?)). Além disso, percebe-se a preocupação com a valorização da cidade cenário. Uma bela cidade, esquecida pela mídia televisiva.
Natal é realmente um belo cenário para uma novela, quando precisar enrolar para encher o capítulo é só colocar cenas de suas belezas. Algumas coisas poderiam ser evitadas por estarem tão massacradas, como a secretária ter um caso com o patrão, pelo menos ele não é casado; ou só ter personagens muito endinheirados ou muito pobres, pelo menos a maioria é estudante.
Não está legal dar o nome de “Malandra” para a moradora do morro, a menos que tenha alguma relação importante com a história; chega de associar pobreza à malandragem. Há a identificação de vários núcleos e o que é bom, vários personagens transitam por diversos núcleos, o que facilita a integração de todos os ramos da história. O número de personagens é bom, mesmo tendo em vista a necessidade da inclusão de mais alguns para costurar os núcleos.
O autor optou por nomes comuns para os personagens, com exceção dos dois; Mardos e Bardo, que inicialmente se apresentam como sendo o núcleo de toda a história. Imagino que isto não tenha sido por acaso, mas não consegui imaginar o que os nomes podem representar. Em fim, se bem direcionada, esta novela pode ficar ótima. Ação; romance; drama; suspense; erotismo; belas paisagens; personagens entrelaçados, como pede uma novela; exploração da beleza física dos personagens, por serem jovens universitários em sua maioria. Parabéns!

Agradecimento do Autor
Olá, gente do Site do Escritor! Só agora eu vi a resposta de vocês e confesso que me surpreendi com a resposta dada. Eu até pensei que não teria resposta alguma porque já fazia tanto tempo que mandei... Mas depois pensei que vocês têm muitos textos para serem analisados, por isso a demora. Eu confesso que imaginei que o responsável pela analise do meu texto acharia uma verdadeira "bosta" o que escrevi, mas, agora, com essa crítica construtiva de meu texto, me deu mais vontade de continuar essa história.
Quero muito agradecer a você que analisou o meu texto, você me fez eu acreditar mais no meu potencial e a escrever acreditando que tenho talento. Bom, com relação aos personagens você definiu bem, eu não publiquei o capítulo todo porque, como eu escrevi, não tava acreditando na minha escrita. O personagem MALANDRA é um apelido da Marlete Cristiane, mas não é porque ela more num morro, mas sim porque ela faz parte de uma sociedade de venda de drogas, com seu amigos, Pedro, vulgo Pereião e Marcio, vulgo Macabro.
E com relação ao personagem "HOMEM" é que ele na verdade tá como um conhecido de Bardo, só uma participação especial mesmo. E com relação ao nome dos protagonistas Bardo e Mardo é que eu quis dar nomes estranhos aos personagens princiapais por conta do meu próprio nome que é bem incomum, porém já tinha mudado de ideia e rebatizei-os com os nomes de Breno e Marcos. E com relação ao título: UMA HISTÓRIA PARA SE CONTAR, está legal? Me dê uma dica se possível sobre isso.
E também vou reescrever todo o primeiro capítulo e divulgar no site para uma nova analise, pois assim poderás dar um analisada melhor. Ah, e com relação a sinopse eu tenho dificuldade de escrever e definir com realmente profundidade cada personagem, então irei publicar isso também para serem analisados e você, responsável pelas analises, me dar dica e realmente escrever o que acha de minhas escritas. Valeu pela atenção!


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