Debaixo desse angu tem carne

Angu é uma alimentação barata, cujo elemento básico é o fubá de milho ou farinha de mandioca. Foi largamente utilizado na alimentação dos escravos negros no Brasil.
Como as cozinheiras também eram escravas, freqüentemente se encontravam pedaços de carne que deveriam ser reservados aos feitores escondidos debaixo do angu de determinados escravos protegidos pela cozinheira ou por outra pessoa, geralmente o transportador dos alimentos ou seu distribuidor.
Por isso, se fosse observado que determinado escravo estava muito cuidadoso com sua porção de angu ou se houvesse preferência por uma outra, desconfiava-se sempre dessa diferença de tratamento. E todos pensavam que debaixo daquele angu devia haver carne.
Até bem pouco tempo ainda se costumava fazer dessas trapaças com os "companheiros" de trabalho, reservando-se uma marmita ou caldeirão especial para o dono do serviço. Este se afastava um pouco de seu grupo para saborear sua refeição de maneira escondida dos outros. Debaixo do angu, a cozinheira botava a carne ou torresmo, que não existia nas marmitas dos outros.
Leonardo Mota registra uma variante: 'Debaixo desse angu tem torresmo", que tem o mesmo valor semântico e origem semelhante. A pequena diferença está no grau ou intensidade da discriminação entre os tratamentos dispensados, lembrando-se a decadência dos todos-poderosos senhores de escravos e de outras elites.
A extensão do significado fez esquecer o antigo costume e aplicar a expressão a qualquer tipo de disfarce para transportar qualquer tipo de coisa de maior valor que o aparente.


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