O Mistério Chamado Paulo Coelho

Primeiramente quero pedir desculpas aos leitores pois, por erro deste autor, a crônica da semana passada, Vergonha Nacional, saiu publicada sem o primeiro parágrafo. Senão alterou o conteúdo da mensagem, alterou um pouco a forma.
O Brasil tem coisas curiosíssimas. Além de Jorge Amado, nunca havíamos tido um escritor de renome internacional até o surgimento de Paulo Coelho. E o grande escritor baiano, falecido recentemente, contou com a decisiva ajuda do partido socialista para divulgar sua obra pelo mundo. É óbvio que se não tivesse qualidade, não teria conseguido o posto de escritor mais traduzido no planeta, mas que houve esta ajuda, isto é inegável. Paulo Coelho foi o primeiro que conseguiu sucesso planetário através do esquema "tradicional". O sujeito publica um livro, que obtém êxito, permite publicar outro e assim por diante. Alguns, como o brasileiro, ficam rico fazendo isso. Ganham milhões. A grande maioria tem na publicação sua maior recompensa, deixando o aspecto financeiro em segundo plano. Escrever, para a maioria, é um complemento da renda.
Mas por que estou falando de Paulo Coelho? Bem, na última quinta-feira, ele foi agraciado, na Alemanha, com o prêmio Bambi, a mais importante honraria concedida às artes por aquele país. É uma premiação concedida uma única vez no ano e para uma única pessoa. Para vencer, é preciso fazer sucesso não só na Alemanha, mas no mundo. É preciso ser reconhecido como alguém de talento indiscutível. Para os alemães, Paulo Coelho o é. Não só para os alemães, para os franceses, principalmente, tão reverenciados no Brasil pela academia, Coelho é uma celebridade. Somente lá, já vendeu mais de seis milhões de exemplares. O que explica tamanha consideração por parte dos leitores europeus e de boa parte do mundo? Não sei. É mais um dos mistérios do nosso tempo. Talvez seja a época de buscar o tão propalado auto-conhecimento, que produziu o fenômeno Paulo Coelho. Não importa que o texto seja fraco, parecendo aqueles e-mails de "acredite em você, seja amigo de todo mundo", que vivemos a receber. Não importa que o autor dê entrevistas dizendo ser capaz de fazer chover a hora que quiser, mas nunca na hora da entrevista.
Já li livros de Paulo Coelho. Num outro momento da minha vida, na adolescência. Costumo dizer que passei da "Série Vaga-Lume" para Aghata Christie. Acho que li a coleção inteira da escritora de suspense policial. Nessa época, também li Paulo Coelho. Mas hoje em dia acho uma bobagem. Não se trata de preconceito ou nada assim. Simplesmente, assim como aconteceu com os filmes, fui aprendendo a selecionar a qualidade em meio a quantidade. Isso acontece com todo mundo que começa a ler muito ou assistir a muitos filmes. As pessoas, às vezes, até acham que é "nariz empinado", mas não é nada disso. Quanto mais se conhece, vai se criando critérios próprios (e claro, muito subjetivos) do que é bom e do que é ruim. Por isso, também não condeno quem lê Paulo Coelho (quem sou eu para condenar?) e, ao contrário de muitos, até acho preferível que se leia antes isso do que nada. Pior do que ler Paulo Coelho e até acreditar fielmente no texto, é não ler nada, nem revistas. Isso sim é um crime que qualquer pessoa comete contra si.
No começo do texto, citei que o Brasil é um país curiosíssimo. Pois é, é por isso. Nunca tivemos nosso grande e celebrado escritor. Machado de Assis (leiam e releiam Dom Casmurro!), Guimarães Rosa... nossa literatura nunca alcançou sucesso mundial. Agora que temos um, ele é justamente aquele que não corresponde às expectativas da crítica ou de qualquer leitor mais exigente. E olha que temos uma facilidade enorme para achar bom tudo o que os estrangeiros também acham. E pode vir mais por aí. Acompanhando as notícias da premiação na Alemanha, fiquei pensando cá com meus botões o dia que Paulo Coelho vai ganhar o Prêmio Nobel de Literatura. Prêmio este que é tão ou mais político que propriamente artístico. E então, finalmente, o Brasil conquistará esta honraria. Só que...será? Em tempo: o letrista Paulo Coelho, parceiro de Raul Seixas, compôs grandes músicas.
Fonte: casadacultura.vilabol.uol.com.br