Introdução: Sobre seu estilo, o próprio Saramago define como um momento "dos mais belos de sua vida de escritor". Quando escrevia Levantado do Chão (1982), seu primeiro sucesso editorial, na forma de um texto convencional, ele conta: "Sem saber como, sem ter pensado nisso, começo a escrever como se tivesse contando aquela história, e contando aquela história, conto-a sem pontuação, da mesma maneira como falamos, com sons e pausas". E complementa: "Abolir a pontuação não foi decidido por alguém que quer escrever algo novo. Foi resultado lógico da aceitação de um tipo de narração que se confunde muito com a oralidade, tem a ver com essa mágica do conto oral. (...) O que eu quero é que o leitor ouça... ouça aquilo que está no livro" (ZERO HORA, 1998).
O título: Levantado do Chão, de 1980, título que simboliza, nesta hora, com perfeição, a vida e a produção literária de um autor que conheceu o desalento e a incompreensão mas que soube porfiar, erguendo-se do chão, qual fértil campo espiritual que Saramago cultivou e que neste dia frutificou de uma forma perene. Nesta obra de 1980, Saramago eleva em epopéia a vida dos trabalhadores alentejanos, em três gerações de dor e sofrimento, viajando como narrador (que se trata a si próprio como «o narrador») entre o passado do século XV e o tempo do presente acompanhando Domingos Mau-Tempo, o seu filho João, os seus netos António e Gracinda, casada com António Espada, personagem importante na diérese.
Narrador: A diferenciação existente entre Levantado do Chão e a tradição do romance histórico é mais nítida no estatuto do narrador e nas funções das personagens. Quanto ao primeiro aspecto, notamos a existência de um narrador que acompanha a ação, comenta e critica, em onisciência, que usa o aforismo ou a profecia levando o leitor a incorporar-se no texto numa dialética ativa entre passado, presente e futuro, na qual ele é guia e consciência.
As personagens são alvo da análise objetiva até à exposição do estatuto fictício e de inverosimilhança numa mistura de realista e ficcional, que é apresentada ao leitor revelando a meta-ficção histórica.
A reconstrução do romance histórico em Saramago tem na personagem, como já indiciamos, outro exemplo de subversão. Na tradicional ordenação das personagens do romance histórico, podíamos encontrar o protagonista-tipo, representante das evoluções do momento histórico-social e as figuras históricas típicas. Estes elementos são a antítese em Saramago.
Tempo: A história contada por Saramago atravessa vários períodos de Portugal, desde a época da monarquia, no início do século XX, o fim da monarquia, a república, a ditadura e a volta da liberdade no final do século XX.
Espaço: Portugal - Alentejo
Personagens: 1ª geração: Tempo de silêncio. São pessoas acuadas pela religião, pela opressão do governo e exploradas pelos donos das terras. A vida é marcada pelo conformismo e não vêem nenhuma perspectiva de mudança. É representada por Domingos Mau-Tempo
2ª geração: tempo das perguntas. Os homens passam a questionar sua situação e a ver que algo pode mudar e que a mudança depende deles, da sua coragem para enfrentar os donos das terras , o governo e se revoltar contra a Igreja. É representada por João Mau-Tempo
3ª geração: Tempo da luta. Os homens passam a fazer greves e a lutar pelas mudanças que desejam. Nesse período, muitos são presos e outros tantos morrem. Manuel Espada é o revolucionário que marca essa época.
Maria Adelaide é a possível resposta para o tempo das perguntas, porque assiste ao fim da ditadura e da geração dela para frente, tudo pode ser construído de maneira diferente, só depende dela.
Igreja: "...afinal o padre Agamedes é humaníssimo padre, como em todos os tempos e lugares ao longo desta história se viu, e há de estimar, mesmo sem por hoje pensar nas necessidades de mão-de-obra do latifúndio, variáveis há de estimar que este homem se junte a esta mulher e façam filhos...e algum benefício trarão à igreja em nascimento, casamento e morte, como assistentes já derma e hão de dar."
Latifundiários: São os "bertos" (brilho). Mantêm a estrutura medieval em Portugal "Em casa de Norberto, as senhoras tinham as delicadezas do sexo, bebiam seu chá, faziam sua malha...Sobre o canapés da sala demoravam-se as revistas de moda de Paris, aonde estava decidido que a família iria.."
"Isso é conversa antiqüíssima, já no tempo dos senhores reis assim se dizia, e a república não mudou nada, não são coisas que se mudem por tirar um rei e pôr um presidente, o mal está noutras monarquias, de Lamberto nasceu Dagoberto, da Dagoberto nasceu Alberto, de Alberto nasceu Florisberto, e depois veio Norberto, Berto, Sigisberto, Adalberto, Gilberto, Ansberto, Contraberto, que admiração é terem tão parecidos nomes, é o mesmo quer dizer latifúndio e dono dele."
"Lamberto não é homem para trabalhar esta grande terra com suas próprias mãos."
Enredo: Introdução: O autor faz reflexões sobre a questão agrária: "o que mais há na terra é paisagem" e a importância do dinheiro: "o lugar do dinheiro é um céu, um alto lugar onde os santos mudam de nome quando vem a ter que ser, mas o latifúndio não." Propõe-se, então, a contar uma história diferente de toda a situação de amargura de desespero do homem do campo: crescei e multiplicai-me, diz o latifúndio Mas tudo pode ser contado de outra maneira."
1ª geração: Domingos Mau-Tempo e Sara da Conceição
O livro tem início com uma grande chuva, que marca a chegada da família em São Cristóvão: "Chamo-me Domingos Mau-Tempo e sou sapateiro Disse um dos homens sentados a sua graça, Mau tempo trouxe vocemecê." Essa família saiu de Monte Lavre porque a vida estava difícil. A mulher, Sara da Conceição, é extremamente oprimida pelo mundo masculino. O marido entra na taberna e ela é obriga a ficar com o filho João do lado de fora, pois "a taberna é sítio dos homens". Depois de saírem de lá, buscam um lugar para ficar, e encontram uma casa simples, sem janelas. Sara sente que está grávida novamente, mas teme comentar com o marido.
O primeiro filho do casal, João Mau-Tempo, se dá muito bem com a mãe. Ele foi a causa do casamento de Sara e Domingos, pois ela se entregou a ele, solteira, no meio dos trigos, no mês de Maio, ficando grávida. O menino nasceu com olhos azuis e o autor nos explica que isso é uma descendência germânica que aparece em alguns membros dessa família.
Com o passar do tempo, Domingos começa a beber muito e Sara constantemente é obrigada a ir buscá-lo no meio da noite, em lágrimas. Devido às dívidas que Domingos fez na taberna, a família foi obrigada a se mudar novamente e Sara dá a luz a Anselmo, no meio de muita dor e sofrimento.
Na outra cidade, Landeira, Domingos é acolhido pelo Igreja do padre Agamedes, mas não abandona a bebida a acaba cobiçando uma mulher que vivia com o padre. Devido a isso, passou a ser mal visto na paróquia, mas jurou que se vingaria do padre, que o havia repreendido. Nomeio de uma missa, brigou com o pároco e eles rolaram as escadas da Igreja. Por causa desse acontecimento, a família se viu obrigada a se mudar para outro lugar.
Nesse momento, o narrador interrompe a história para localizar o leitor no momento histórico que Portugal atravessava. A monarquia havia caído e chegara a República, mas nada mudou na vida do homem do campo: "ente o latifúndio monárquico e o latifúndio republicano, não se viam diferenças."
Nessa época, os camponeses resolveram se juntar e ir ao administrador da fazenda, pedir melhores condições de vida. Lamberto, dono do latifúndio chama a polícia e muitos apanham e são presos e mortos.
Retomando a narrativa, percebemos que Sara têm mais dois filhos, Maria da Conceição e Domingos, entretanto, somente João tinha olhos azuis.
Com a passar dos anos, Domingos começou a desaparecer por algum tempo e depois voltar para casa. Sara, desesperada, voltou para a casa dos pais com os filhos. Domingos chegou a procurá-la algumas vezes, mas ela se separou definitivamente e se escondia dele. Sem ver sentido em sua vida, Domingos se enforca. Sara ainda cuida dos filhos e dos netos, mas passa a ter sonhos com Domingos e acaba ficando louca e morrendo doente.
2ª geração: João Mau-Tempo e Faustina
João, como filho mais velho, assume a família e começa a trabalhar desde pequeno. O mundo está em guerra e eles passam muitas dificuldades. "João não tem corpo de herói. É um pelém de dez anos retacos, um cavaco de gente que ainda olha as árvores... É uma injustiça que se lhe faz obrigá-lo a levantar-se ainda noite fechada, andar meio a dormir e com o estômago frouxo o pouco ou muito caminho que o separa do lugar de trabalho e depois dia fora, até o sol posto, para tornar a casa outra vez de noite, morto de fadiga, se isto é ainda fadiga, se não é já transe de morte."
Um pouco mais velho, João, então, conhece seu grande amor, Faustina, e decidem se casar. A família da menina não permitiu a união e eles fugiram, levando um pedaço de pão e chouriço para comer : "Em pouco tempo perdeu Faustina a sua donzela, e, quando terminaram lembrou-se João do pão de do chouriço, e como marido e mulher o repartiram"
Enquanto isso, o povo continuava a viver oprimido pelos bertos, apanhando muito do feitor da fazenda, sem poder reclamar.
João e Faustina têm três filhos, Antônio, Amélia e Gracinda. Antônio começa a trabalhar desde cedo, como o pai. O trabalho no campo é duro e os homens começam a se organizar em torno do comunismo. Sobre isso, o narrador afirma: "Outros, porém, já se levantaram, não no sentido próprio de quem suspirando se arranca do doloroso conforto... mas naquele outro e singular sentido que é acordar em pleno meio dia e descobrir que um minuto antes ainda era noite." João acaba se envolvendo em um manifesto e vai preso. Historicamente, Salazar tinha assumido o poder em Portugal. O padre Agamedes, continuava trabalhando para oprimir o povo e tinha sempre um discurso de conformismo, fazendo os homens aceitarem a situação. Nesse período, um jovem idealista, chamado Manuel Espada se destaca, por ser revolucionário e querer mudanças para a vida do trabalhador. Ele e Antônio, filho de João Mau-Tempo, tornam-se amigos.
Movidos pelo discurso comunista, Manuel, João e outro vão aos patrões para reclamar das condições de trabalho e pedir melhores salários. Acabam sendo presos por muito tempo. Faustina vai até lá, juntamente com as filhas Gracinda e Amélia . Manuel Espada e Gracinda se vêem e se apaixonam. Todos acabam voltando livres para casa e Manuel e Gracinda começam a namorar, apesar dele ser sete anos mais velho que ela.
3ª geração: Manuel Espada e Gracinda Mau-Tempo
O casal não pode se unir de imediato, porque Gracinda é muito jovem e não tinha enxoval. Nesse período, Manuel é tido como o primeiro grevista de Monte Lavre, porque não aceita a opressão dos latifundiários. Gracinda, depois de três anos, sente-se pronta para casar e demonstra ter um pressentimento de que sua criança seria especial.
Finalmente, chega o dia da festa e a cerimônia é realizada pela padre Agamedes. O narrador deixa claro que o padre não é o mesmo do início do livro: "nem o padre é o mesmo, as pessoas não são eternas". Na verdade, essa figura representa a igreja. O padre começa a fazer o seu discurso: se não fôssemos nós, a igreja e o latifúndio, duas pessoas da santíssima trindade, sendo a terceira o Estado.. como sustentariam eles a alma e o corpo..." Antônio Mau-Tempo interrompe a fala do padre e faz um discurso altamente revolucionário, sabendo colocar o padre em seu lugar. O casamento se realiza e no dia seguinte, Manuel já tem que trabalhar.
As agitações políticas no latifúndio aumentam e João acaba sendo preso novamente. A família fica em lágrimas e ele é condenado a trinta dias de isolamento. Lá, sofre muito, sendo insultado e espancado nas pernas. Quando João sai da cadeia, já está velho, mas seus olhos têm o mesmo brilho azul de outrora. Antônio que estava no exército, volta para casa porque tem problemas de saúde, e vem trabalhar no latifúndio. Gracinda fica grávida e Manuel e Antônio passam a trabalhar juntos.
A criança do casal representa uma mudança "Quem em tudo isso não encontrar novidades, precisa que lhe tirem as escamas dos olhos ou lhe abram um buraco na orelha"
A menina chama-se Maria Adelaide Espada, e nasce com os mesmos olhos azuis do avô. O narrador antecipa o significado disso: "quando ele chegar faremos a comparação e então ficaremos a saber de que azul enfim se trata". João chega e vai ver a menina "João Mau-Tempo vê que seus olhos são imortais"
Historicamente, percebemos que a ditadura continua. O narrador, que domina o texto, demonstra sua tristeza por perceber que a história não mudava, porém, os latifundiários se organizam novamente e o povo passa a pedir eleições livres: "o mar levanta-se, levantam-se os braços, as mãos trazem as rédeas ou trazem pedras apanhadas do chão (...) Era uma cena de batalha digna... Esta foi a carga do vinte e três de junho fixai bem a data na memória E quando os dragões passaram João Mau-Tempo não pode segurar as lágrimas, de raiva eram e de uma grande tristeza também. Quando será que acaba o nosso martírio" João chorava porque a ditadura não caíra com a insurreição dos camponeses.
Porém, mais uma vez, os trabalhadores se organizaram e foi um grande momento da história do latifúndio. Era o mês de abril, período em que aconteceu em Portugal a Revolução dos Cravos, que finalmente acabou com a ditadura. "foi-se deslaçando a sagrada aliança" João fica doente e sabe que vai morrer. A neta Maria Adelaide vem para se despedir do avô e, ao se olharem, é como se "tivessem trocado de olhos".
A menina está crescida e desde cedo começa a trabalhar longe. Já tem 19 anos e percebe que não foi criada para ser princesa, mas tem sonhos. Um dia, quando está voltando do trabalho para casa, percebe que algo mudou. Pressente que a ditadura chegou ao fim pela revolução do povo. "é como se tivesse vivido sempre com os olhos fechados e agora, enfim, os tivesse ‘abrido’ ...é dona da sua liberdade." Maria Adelaide começa a chorar e a gritar: "Viva Portugal". No dia 1º de maio, dia do trabalho, ela caminha pelas ruas de seu país: está aqui escrito que o primeiro de Maio será festejado livremente, é dia feriado em todo o país "Tanto se apregoou de mudanças e de esperanças, saíram as tropas dos quartéis, coroaram-se os canhões de ramos e de eucalipto e os cravos encarnados, diga vermelhos, minha senhora, diga vermelhos, que agora já se pode".
"Depois se Maria Adelaide começar a chorar não se admirem, chorará nesta mesma noite quando ouvir dizer a voz na rádio, Viva Portugal, será nesse mesmo instante, ou já terá sido antes, às primeiras notícias de ontem, quando atravessou rua para ver mais perto os solados...ela sabe, percebe que a vida mudou." No meio da festa do povo e junto de Maria Adelaide, estão Domingos, Sara, João, Faustina, e tantos outros que morreram na luta pela liberdade e pela reforma agrária. Todos vieram ver de perto esse dia "levantado e principal".
Comentários
Mau-Tempo: Família que representa o sofrimento do homem do campo português e o mau tempo da ditadura.
"Há quem diga que sem o nome que temos não saberíamos quem somos, é um dito que parece perspicaz e filosófico."
"Esta família Mau-Tempo parece escolhida pelo destino para negros casos"
Olhos Azuis: Certas pessoas dessa família nascem com olhos azuis.
"...outra rapariga, quase quinhentos anos antes, que estando um dia sozinha na fonte a encher sua infusa, viu chegar-se um daqueles estrangeiros que...desatendendo aos gritos e rogos da donzela, a levou a uma espessura de fetos, onde, a seu prazer, a forçou. Era um galhardo homem de pele branca e olhos azuis, que não tinha outra culpa que o atiçado no sangue... Assim, durante quatro séculos estes olhos azuis vindos da Germânia apareceram e desapareceram, tal como cometas que se perdem no caminho e regressam quando com eles já não se conta..."
História de Portugal: Monarquia/República: "O trono caíra, o altar dizia que por ora não era este reino o seu mundo, o latifúndio percebeu tudo e deixou-se estar, e um litro de azeite custava mais de dois mil réis, dez vezes a jornada de um homem. Viva a República! Viva o patrão!"
Guerra: "É a guerra aquele monstro que primeiro devore os homens lhes despeja os bolos, um por um, moeda atrás de moeda... Em alguns lugares ao redor houve gente que pôs o luto, o nosso parente morreu na guerra. O governo mandava condolências, sentidos pêsames e dizia que a pátria."
Ditadura de Salazar: "Viva Portugal...estamos aqui reunidos....como continuadores da grande gesta lusa e daqueles nossos maiores que deram novos mundos ao mundo e dilataram a fé e o império, mais dizemos que ao toque do clarim nos reunimos como um só homem, ao redor de Salazar, o gênio que consagrou a sua vida, aqui tudo grita Salazar Salazar, ...abaixo o comunismo, morram os traidores da pátria , morram..."
Fim da Ditadura: Revolução dos Cravos
É importante lembrar que o período revolucionário dos Cravos tem início com as conturbações dos anos sessenta; passa pela eclosão do 25 de Abril de 1974 e chega a uma fase vista como de repercussão do processo revolucionário, de abertura político-social, que cobre toda a década seguinte. Na relação com o contexto social, essa narrativa ficcional é, por um lado, impulsionada pelas circunstâncias históricas e, por outro lado, é impulsionadora da reflexão crítica sobre o processo revolucionário.
Posição da Mulher: Percebe-se que a mulher também se levanta do chão. Sara é oprimida pelo mundo masculino; Faustina tem maior participação na vida da família e na vida do marido; Gracinda é mais decidida e tem opinião forte, personalidade; Maria Adelaide marca o levantar da mulher na sociedade, porque é independente, trabalha desde cedo e recebe a missão de mudar (olhos azuis).
"De mulheres nem vale a pena falar, tão constante é o seu fado de parideiras e animais de carga" (Sara)
"De homens se continuará a falar, mas também cada vez mais de mulheres... é que os tempos vêm aí..." (Faustina)
"afinal não é tão grande a diferença assim entre mulher e homem, a não ser o salário." (Gracinda)
"ela sabe, percebe que a vida mudou." (Maria Adelaide)
Latifúndio X mar: "O latifúndio é o mar interior. Tem seus cardumes de peixes miúdos e comestíveis, suas barrancudas e piranhas de má morte... É mediterrâneo...dizer que o latifúndio é um mar...se esta água agitarmos , toda a outra em redor se move, às vezes de tão longe que os olhos o negam, por isso chamaríamos enganadamente pântano a este mar, e o que fosse.. Este é o grande mar do latifúndio... A este mar do latifúndio chegam ressacas, pancadas, empurrões das águas e quando às vezes basta derrubar um muro, ou simplesmente saltá-lo...muito se irá falar do latifúndio, qual mar, qual nada, o que isto é, é terra as mais das vezes seca, por isso é que os homens dizem Quando será que matamos a sede.
Camões X Fernando Pessoa X José Saramago: Tanto Camões quanto Fernando Pessoa relacionam Portugal com o mar.
Camões escreveu OS LUSÍADAS no momento em que Portugal atingia sua soberania, conseguida através das grandes navegações
Fernando Pessoa escreveu MENSAGEM. Nessa obra poética, ele defende que o Rei D. Sebastião, que sumiu em uma batalha voltaria pelo mar e salvaria Portugal da decadência.
Saramago inova, porque com o livro LEVANTADO DO CHÃO, demonstra que a única solução para Portugal é ‘levantar do chão’. Deixar de aguardar soluções maravilhosas e míticas e lutar pelo país.
Santíssima Trindade do Latifúndio: Latifúndio X Igreja X Governo
Utilização da Parábolas: "Primeiro há de encontrar uma boa pedra plana, com mão travessa de altura e larga bastante par ameia folha de jornal. O dia não será de vento, para que se não espalhe o montinho de pimenta que, na confusão dos títulos e a da letrinha miúda itálica e redonda, vai ser o gatilho desta espingarda. Como toda a gente sabe, a lebre é curiosa, Ainda mais do que o gato; Nem há comparação basta dizer-se que o gato não quer saber do que vai pelo mundo, a ele tanto se lhe dá, ao passo que a lebre não pode ver um jornal caído numa estrada que não vá logo ver o que se passa, e tanto assim, que há caçadores que descobriram um sistema, põem-se atalaia atrás dum valado q quando a lebre se chega para saber as notícias, trás, fogo nela, o pior é que o jornal fica esfarrapado...o sítio é mau para as lebres, às vezes acontece daí a pouco aparece a primeira lebre, aos saltos, morde além, trinca por este lado, e de repente fica com as orelhas espetadas, viu o jornal,
Que faz ela, Coitada, nem desconfia , vai naquela ânsia de saber notícias, corre para o jornal e começa a ler, é uma lebre feliz, contente, não lhe escapa uma linha , E o que é que acontece...Pergunte a quem quiser, até uma criança de colo sabe essas coisas.
São os homens feitos de maneira que mesmo quando mentem dizem outra verdade, se pelo contrário é a verdade que querem lançar da boca para fora, vai sempre com ela uma forma de mentir, mesmo não havendo o propósito... Querem ver que vocemecê também é como as lebres."
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