Tereza Batista Cansada de Guerra

Resumo e Fragmentos do livro

O romance conta a história de Tereza Batista, adolescente ainda, que é vendida pelos pais, ficando à mercê do Capitão Justiniano Duarte da Rosa, homem sem escrúpulos, Tereza consegue fugir, depois de matar o capitão. Passa a viver com Emiliano Guedes um amor quase filial. Com a morte deste, Tereza Batista prostitui-se, lutando contra a polícia em favor das companheiras. Finalmente cansada de guerra, no dia de seu casamento sem amor, foge com Januário Gereba, o sonho realizado.

Não que Tereza houvesse lhe dado tamanha despesa, até ajudava nos afazeres de casa e do roçado. Mas quanto custou muito ou pouco, a comida, a roupa, o bê-á-bá e as contas, os cadernos para escola, quem lhe deu tudo isso foi tia Felipa, irmã de sua mãe Marieta, morta no desastre da marinete, vai para cinco anos. Agora, quando surgem os pretendentes, é justo, seja ela Felipa, a cobrar e a receber. (1972, p. 69).

Talvez um pouco verde de vez ainda, se amadurecesse mais um ou dois anos, estaria no ponto. Assim tão menina, não há como negar, é malvadeza entregá-la ao capitão, mais louca seria Felipa se resolvesse esperar ou se opor. Esperar para vê-la na cama ou nos matos com um moleque qualquer? Se opor para Justiniano levá-la a força, na violência e de graça? Afinal Tereza em breve dias completaria treze anos. Pouco mais tinha Felipa quando Porciano lhe fez a festa e na mesma semana caíram em cima os quatro irmãos dele e o pai e como se não bastasse, lambuzou-a o avô o velho Etelvino, já com cheiro de defunto. Nem por isso morrera ou ficara aleijada. Não lhe faltou sequer casamento, com benção de padre. Também vocação de corno igual a de Rosalvo não conhecia na redondeza. Tão chifrudo como cachaceiro. (1972, p. 69-70).

Arfante, cego de ódio, o capitão surra como jamais surrou, nem a negrinha Ondina apanhou tanto assim. Tereza defende a face, as mãos em chegas, não há de chorar mas os gritos e as lágrimas soltam-se e rolam independentes de sua vontade, não basta querer: Tereza urra de dor, ai! Pelo amor de Deus! Do quarto vizinho chegam as pragas malucas de dona Brígida, inúteis, não acalmam o capitão, não consolam Tereza, não despertam os vizinhos nem a justiça de Deus. Incansável capitão: Tereza rola semimorta, o vestido empapado de sangue, o capitão continua a bater um bom pedaço de tempo. Aprendeu, cachorra? Com o capitão Justo ninguém se atreve a quem se atreve apanha. Para aprender a ter medo, a obedecer. (1972, p. 112).

Até aquele dia de cinzas, Tereza se considerou sobretudo em dívida com o doutor, a gratidão ocupando preponderante lugar entre os sentimentos a ligá-la ao usineiro. Ele a mandara retirar o cárcere, indo depois pessoalmente buscá-la em quarto imundo de prostíbulo e, fazendo-a sua amásia, a tratou como se ela fosse uma pessoa, com bondade e interesse. Dera-lhe calor humano, ternura, tempo e atenção, erguendo-a da ignomínia, da diferença pelo destino, ensinando-lhe a amar a vida. Tereza fizera do doutor um santo, um deus alguém muito acima dos demais e isso a deixava acanhada diante dele. (1972, p. 272).