Preceito

PRECEITO 1
Que de quilombos que tenho
com mestres superlativos,
nos quais se ensinam de noite
os calundus, e feitiços.
Com devoção os freqüentam
mil sujeitos femininos,
e também muitos barbados,
que se presam de narcisos.
Ventura dizem, que buscam;
não se viu maior delírio!
eu, que os ouço, vejo, e calo
por não poder diverti-los.
O que sei, é, que em tais danças
Satanás anda metido,
e que só tal padre-mestre
pode ensinar tais delírios.
Não há mulher desprezada,
galã desfavorecido,
que deixe de ir ao quilombo
dançar o seu bocadinho.
E gastam pelas patacas
com os mestres do cachimbo,
que são todos jubilados
em depenar tais patinhos.
E quando vão confessar-se,
encobrem aos Padres isto,
porque o têm por passatempo,
por costume, ou por estilo.
Em cumprir as penitências
rebeldes são, e remissos,
e muito pior se as tais
são de jejuns, e cilícios.
A muitos ouço gemer
com pesar muito excessivo,
não pelo horror do pecado,
mas sim por não consegui-lo.

PRECEITO 2
No que toca aos juramentos,
de mim para mim me admiro
por ver a facilidade,
com que os vão dar juízo.
Ou porque ganham dinheiro,
por vingança, ou pelo amigo,
e sempre juram conformes,
sem discreparem do artigo.
Dizem, que falam verdade,
mas eu pelo que imagino,
nenhum, creio, que a conhece,
nem sabe seus aforismos.
Até nos confessionários
se justificam mentindo
com pretextos enganosos,
e com rodeios fingidos.
Também aqueles, a quem
dão cargos, e dão ofícios,
suponho, que juram falso
por conseqüências, que hei visto.
Prometem guardar direito,
mas nenhum segue este fio,
e por seus rodeios tortos
são confusos labirintos.
Honras, vidas, e fazendas
vejo perder de contino,
por terem como em viveiro
estes falsários metidos.