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Ailton Alves Lacerda Krenak nasceu na década de 50, na região do Médio Rio Doce (MG), onde fica localizada a Terra Indígena Krenak. Mudou-se aos 17 anos para o Paraná com sua família e lá foi alfabetizado e tornou-se produtor gráfico e jornalista. Nos anos 80, passou a dedicar-se exclusivamente ao movimento indígena. Em 1985 fundou a ONG Núcleo de Cultura Indígena. Dois anos depois, durante a Assembléia Constituinte, protagonizou uma das cenas mais marcantes da redemocratização. Como forma de protesto ao retrocesso na luta pelos direitos indígenas, Krenak pintou sua face com tinta preta do jenipapo durante seu discurso na tribuna. Para o seu povo, o produto é usado em situações de luto. Em 88, participou da fundação da União dos Povos Indígenas. A organização buscava representar os interesses dos povos no cenário nacional. No ano seguinte, participou da Aliança dos Povos da Floresta, movimento que desejava a demarcação de reservadas naturais da Amazônia onde fosse possível a subsistência econômica através do extrativismo. Em 2005, co-escreveu a proposta da Unesco que criou a Reserva da Biofera da Serra do Espinhaço, que até hoje é membro do comitê gestor. Em 2017, sua tragetória foi tema do documentário “Ailton Krenak e o sonho de pedra”, do diretor Marco Altberg. Passados os anos, sua voz continuou sempre relevante e ecoante. Em 2019 escreveu o livro Ideias para Adiar o fim do mundo e nos anos seguintes as obras O amanhã não está à venda e A vida não é útil. O nome Krenak significa, em sua etimologia, cabeça (kre) da terra (nak). Os Krenak ou Borun são os útimos “Botocudos do Leste”, nome atribuído pelos portugueses no fim do século 18 aos grupos que usavam botoques auriculares ou labiais. São conhecidos também por Aimorés, para os Tupí e se auto-denominam Grén ou Krén. Esse povo indígena, que da origem ao sobrenome de Krenak, possui hoje significativa parte de sua população localizada em Minas Gerais, na região do Vale do Rio Doce. Lá, onde o filósofo cresceu, a comunidade e ecologia encontram-se profundamente afetadas pela extração de minérios. Em 2015, a catástrofe de Mariana (MG), devastou toda a fauna e vegetação do Rio Doce, atingindo a principal fonte de subsistência dos Krenak. O rompimento da barragem foi apenas mais um dos desafios enfrentados pela comunidade que resiste desde a chegada dos portugueses nas terras brasileiras. Os Krenak hoje são representados por pouco mais de 600 sobreviventes que ainda ocupam a região. Durante toda sua carreira, Ailton Krenak é um crítico do sistema capitalista e do eurocentrismo na percepção da civilização. O capitalismo e o colonialismo presente no processo de formação do povo brasileiro são pontos principais de seu pensamento e temas recorrentes em suas obras. Na série documental “Guerras do Brasil.doc”, disponível na Netflix, Krenak faz uma recuperação histórica e reflete sobre as invasões sofridas pelo país desde a chegada dos europeus. Ao contrário do que consta nos livros de História, o autor explica que nunca houve um momento de rendição por parte dos povos indígenas. Fonte: www.politize.com.br |