Com a FEB na Itália - Fragmentos

“(...) os médicos e os enfermeiros, acostumados a cuidar de rudes corpos de homens, inclinavam-se sob a lâmpada para extrair os pedaços de aço que haviam dilacerado aquele corpo branco e delicado como um lírio – agora marcado de sangue (...)” (BRAGA, 2005, 55).

"(...) nos seus olhos eu não vi essa expressão de cachorro batido dos estropiados, nem essa luz de dor e raiva dos homens colhidos no calor do combate, nem essa impaciência dolorosa de tantos feridos, ou o desespero dos que acham que vão morrer. Ela me olhou quietamente. A dor contraía-lhe, num pequeno tremor, as pálpebras, como se a luz lhe ferisse um pouco os olhos. Ajeiteilhe a manta sobre a cabeça, protegendo-a da luz, e ela voltou a me olhar daquele jeito quieto e firme de menina correta (...)" (BRAGA, 2005, p55).

“(...) Deus sabe que tenho visto (...) minha confortável guerra de correspondente. Vai-se tocando, vai-se a gente acostumando no ramerrão da guerra (...) meninas da toscana, eu vi vossas irmãzinhas do Ceará (...)” (BRAGA, 2005, p. 55-56).

“(...) por mais distraído que seja um repórter, ele sempre, em alguma parte em que anda, vê alguma coisa (...)” (BRAGA, 2005, p. 56).

“(...) É preciso acabar com isso, e acabar com os homens que começaram isso e com tudo que causa isso – o sistema idiota e bárbaro de vida social onde um grupo de privilegiados começa a matar quando não tem outro meio de roubar (...)” (BRAGA, 2005, p. 56).

“(...) sim, tenho visto alguma coisa e também há coisas que homens que viram me contam (...)” (BRAGA, 2005, P. 56).

“(...) que coisa mais sagrada sois ou conheceis que essa quieta menina camponesa? (...)” (BRAGA, 2005, P. 56).

“(...) há 13 anos trabalho neste ramo – e muitas vezes não Dossiê conto. Mas conto a história sem enredo dessa menina ferida (...)” (BRAGA, 2005, p. 56).

“(...) enquanto um homem for dono deste campo e mais daquele campo, e outro homem se curvar, jornada após jornada, sobre a terra alheia ou alugada, e não tiver de seu nem o chão onde vai cair morto – esperem a guerra (...)” (BRAGA, 2005, p. 59).

“(...) tudo isso podem ser Ideias à-toa, mas aquele Cristo decapitado depois de crucificado me pareceu mais cristão que a Madona intocada sorrindo com a granada aos pés, entre as ruínas de sua capela. Aquele pobre cristo de massa, sem cabeça, pendendo para um só lado da cruz, me pareceu mais irmão dos homens, na sua postura dolorosa e ridícula, igual a qualquer outro morto de guerra, irmão desses cadáveres de homens arrebentados que tenho visto, e que deixam de ser homens, deixam de ser amigos ou inimigos para ser pobres bichinhos mortos, encolhidos e truncados, vagamente infantis, como bonecos destruídos (...)". BRAGA, 2005, p. 59).

Extraído do livro: 200 crônicas escolhidas - Editora Record, 2005 (Compre e leia o livro, vale a pena)