|
"(...) A gente vê como andou certo o nosso governo dissolvendo o partido nazista que fazia seus desfiles em S. Paulo e os integralistas, que usavam camisa parda por baixo da camisa verde. Lá e cá, o mesmo. O último putsch chileno serve para nos instruir e nos por em guarda contra o “intercâmbio cultural” com os nazistas, contra os quistos nazistas do Sul, contra a penetração do imperialismo na vista e contra a inconsciência dos brasileiros que se desmancham em hinos à Alemanha. Somos gente que não vale nada. Tenhamos um pouco de cuidado com esses arianos puríssimos, raça de super-homens que pretendem civilizar este nobre país (...)". (Braga 1938a: 5) "(...) A realidade é esta: grandes e ricos trechos do território nacional são habitados por alemães e filhos de alemães, uns e outros nazistas. O chefe desses homens é o Sr. Hitler, e o Sr. Hitler defende a “doutrina” de que devem pertencer à Alemanha os territórios habitados por uma maioria alemã. Existe, portanto, um perigo. Não é de imediato, porque no momento o Sr. Hitler está se fortalecendo. Já avançou na Áustria, já avançou nos sudetos. Quer avançar agora nas colônias de Portugal. Avançará amanhã, e fatalmente no Brasil (...)". (Braga 1938b: 5) "(...) Há um quisto no Brasil. Só não enxergam esse quisto alguns remanescentes do integralismo e alguns jornalistas venais que vivem a soldo do nazismo querendo desviar a atenção dos brasileiros para o “perigo semita” e outros bons negócios. [...] Agora a questão é simples e pode ser resolvida aqui dentro de casa. Parece que por enquanto quem manda no Brasil são os brasileiros. Tudo se resumo assim: não queremos “anchluss” não tenhamos “sudetos”. Com um pouco de energia e sem nenhuma complicação internacional podemos evitar o perigo (...)". (Braga 1938b: 5) "(...) O decreto do governo vem muito a propósito, no momento em que se debate em Lima a proposta brasileira que não reconhece minorias raciais na América. Temos sido nesse assunto, displicentes e errados. Certos fatos da política internacional alertaram a tempo as nossas autoridades. Vamos nacionalizar o Brasil. Somos um país fraco. Tão cedo não seremos fortes como as grandes potências. Mas, o caminho é este: começa sendo nós mesmos. Venham para cá os estrangeiros. Somos amigos de todas as raças. Achamos que todo o bicho humano é mais ou menos igual a outro bicho humano. Mas aqui é Brasil. Não queiram nos “civilizar”. Isso aqui pode ser desorganizado. Pode ser que muita coisa aqui esteja errada. Pode ser que sejamos um povo mestiço e por estes motivos nos chamem de inferior. Mas, nós somos nós mesmos, e isto aqui por enquanto é nosso. Isto aqui é Brasil (...)". (Braga 1938c: 5) "(...) Foi preso um homem que se vestia de padre para ganhar a vida. Chama-se Newton Lyrio dos Santose arrecadou dinheiro para os católicos perseguidos e exilados pelo nazismo. Diz o jornal que o falso padre é bacharel, bacharel de verdade pela Faculdade de Niteroí, o que não deixa de ser interessante. Pelo menos é preciso notar que até hoje nenhum padre se vestiu de bacharel para arranjar dinheiro – o que indica as pequenas possibilidades financeiras da classe dos homens de lei. Mais admirável ainda na história é a lista, que vejo no jornal, de algumas das pessoas que foram lesadas pelo homem: Hebert Bresler, em 3.500$, Eric Dankerk, em 2.000$, Augusto Loshenstein, em 2.000$, A. Meyer em 700$. Como se vê, são quase todos nomes estrangeiros – e desses cinco nomes citados – os três últimos – se poder dizer com segurança que pertencem a judeus. Assim o falso padre, querendo arranjar dinheiro para os católicos perseguidos, se dirigia aos judeus. Os outros nomes, caso não sejam de judeus alemães são, nitidamente de alemães. De onde se vê que os homens perseguidos pelo nazismo podem encontrar apoio entre os alemães (...)". (Braga 1938d: 5) "(...) O integralismo, com seu espirito de imitação, conseguiu meter na cabeça de alguns ingênuos brasileiros o anti-semitismo, pintando o judeu como monstro sem entranhas, voraz usurário. Esse “conto do vigário” vem mostrar que estes “monstros”, embora completamente estranhos a uma religião – em nome da qual, aliás, já foram há tempos queimados vivos – levam seu instinto de solidariedade a ponto de auxiliar os homens dessa religião vitimados pela fúria reacionária de um governo pagão (...)". (Braga 1938d: 5) "(...) Ora está visto que o inquérito não adianta nada. Houve o boato de que o governo ia fazer, em 10 de novembro uma lei permitindo o divórcio. Esse boato já foi desmentido e desmoralizado, como tantos outros. A discussão portanto, chega tarde. Alem do mais essa espécie de inquérito é mais um divertimento jornalístico, um numero de variedades da reportagem que propriamente um meio de sondar opinião. [...] É verdade que a Igreja é contra o divórcio. Mas acontece que os católicos teriam a mais completa liberdade de não se divorciarem, como qualquer pessoa tem em qualquer país do mundo (...)". (Braga 1938e: 5) "(...) Não sou contra o jogo. Pode dizer que ele é imoral. Mas eu creio que neste baixo mundo em que vivemos o moral é qualquer coisa de tão vaga e relativa que um homem relativamente honesto deve ter um pouco de remorso de incomodar os outros em nome da moral. Jogo e jogo roubado, existe sob varias formas, as mais legais e austeras. [...] Por mais que me esforce, não consigo achar nada de imoral nem de ruim no jogo em si mesmo. Se os lucros dos banqueiros fossem dados à parte da multidão que joga, o jogo seria, talvez, a única atividade realmente boa. Transformaria a ambição de ganhar em ato de solidariedade humana (...)". (Braga 1938f: 5) "(...) A policia do Estado do Rio está utilizando varias mulheres como investigadoras na Ordem Política e Social. Uma dessas investigadoras, a Sra. Isa Belivacqua, fez declarações à imprensa. Contou varias coisas. E, foi, por causa disso, suspensa por dez dias pelo chefe de Polícia. Com esse nome próprio para palavras cruzadas e esse sobrenome de jurista, a policial fluminense foi castigada por indiscreta e faladeira. [...] Há excesso de ordem no mundo. Implantai dentro de nós a desordem fecunda e viril, a desordem dos sentimentos, a desordem que é a sabedoria (...)". (Braga 1938g: 5) "(...) O Mauricio fez uma espécie de versão carioca do conto dos irmãos Grimm. A música, por isso mesmo inclui a macumba e o swing – um pouco da religião triste dos negros dos morros e da inquietação sensual das pequenas de Copacabana. [...] A “Branca de Neve” que Mauricio Goulart criou tem qualquer coisa de contundente, na sua ironia e na sua delicadeza. Sob o ponto de vista da moral, estética é dissolvente. Que ninguém se assuste : não é dissolvente dos costumes. E só por isso não é sublime – pois haveria coisa mais sublime que dissolver os nossos costumes? São quase todos, maus costumes. O bom costume é viver a vida. E os nossos costumes são quase todos no sentido de proibir a vida, de disfarçar a vida, de aborrecer a vida (...)". (Braga 1938h: 5). "(...) Na sua entrevista de ontem o Sr. Getúlio Vargas disse, a respeito do capital estrangeiro: “Só nos pode interessar, sem duvida, a inversão de recursos financeiros. Queremos, porém, que eles se fixem e produzam, enriquecendo os seus possuidores, mas também enriquecendo a nossa economia. Os capitais cuja renda emigra totalmente são um instrumento passivo e, às vezes, negativo na marcha do progresso nacional. Como tais podemos classificar os que se limitam a recolher juros e dividendos, que onerem permanentemente a balança de pagamentos” (...)". (Braga 1938i: 5) "(...) O que não está certo é que milhares de brasileiros trabalhem rudemente numa determinada empresa, com magros salários, para que a maior parte do produto desse trabalho vá aumentar o luxo de alguns cavalheiros confortavelmente instalados em capitais distantes. [...] Na sua entrevista diz ainda o presidente Vargas que o Brasil não pode se enquadrar na classificação de pais “semicolonial”. Essa afirmação envolve uma promessa de tal ordem que para nós é o que há de mais importante em toda a enorme entrevista. Realizar isso – mostrar que de fato o Brasil não é um país semicolonial – seria realizar uma revolução, a primeira revolução na América do Sul (...)". (Braga 1938i: 5) "(...) Mais uma revolução no México. Coisa sem importância – diz um jornal. De fato. Importante não é que haja uma revolução, ou duas revoluções ou três revoluções no México. Importante é que no México há uma Revolução. Na América Latina há poucos homens tão simpático como Lázaro Cardenas, esse general de cara de índio que é presidente do México. Ele não é destes que organizam formidáveis paradas em uniforme e governam com o machado na mão. É um democrata. Democrata de verdade, vido do meio do povo. Não se considera semideus nem pensa que tem qualquer missão divina a cumprir. Sua missão é humana e ele a cumpre: melhorar a vida do povo mexicano. Longe de tratar o povo como um padrinho, um tutor, Cardenas não tem o habito de fabricar a opinião pública de cima para baixo. Ele educa e obedece. Ensina o povo – e aprende com o povo. [...] Sob seu pulso firme – e, entretanto, leve – o México se transforma. Ele dá a toda a América um grande exemplo de democracia (...)". (Braga, 1938j: 5) "(...) Uma característica do fascismo é essa capacidade que ele tem de transformar em políticos militantes os homens mais estranhos ou avessos à política. No Brasil, nos Estados Unidos, em todo mundo, homens que vivem encerrados sem seus gabinetes de estudo ou laborátorios de análises deixa por um momento os livros e os provetas, interrompem as suas pesquisas e as suas leituras para dizer duras palavras de reprovação ao fascismo. Sábios, estudiosos, artistas, intelectuais, todas as expressões mais puras e valiosas da cultura mundial acusam o fascismo. Não é que esses homens sintam grande interesse pela política. É que o fascismo os obriga a reagir. Escravizando homens, ele também quer escravizar a cultura, a ciência, a arte. [...] Num país como o Brasil o nazismo só pode ser impopular. Aqui não há lugar para sudetos. Há, apenas os sudetos morais, como os integralistas e outros rapazes histéricos que vivem sonhando pecaminosamente com um “homem forte”. Esses masoquistas morais sentem espasmos quando os jornais contam uma nova façanha do belo Adolph. Enfeitam o seu retratinho de flores e quase desmaiam de amor. Não sabem que este mundo é enganoso e que o amor é triste. A vida anda para frente: é, este, um seu defeito de nascença. E a História tem o excelente hábito de sossegar os leões. (...)" (Braga 1938k: 5). Grypho 7, p. 5, n. 1010, 9 set 1938a.
Extraído da revista: Estação Literária - Universidade Estadual de Londrina - Vol. 11 - 07/2013 |