A maioria dos textos de Dalton Trevisan é de confronto (à sociedade, à tradição, à cidade, aos governantes etc.). Embora a literatura do autor se faça com base na realidade, muitos leitores não a enxergam desse modo e a veem como distante da realidade, na mesma proporção em que os temas os surpreendem. A violência, os tipos populares e os flagrantes da vida privada consolidam situações e personagens considerados grotescos pelo público. Entretanto, há que se ressaltar que essa classificação é resultado do exagero causado pelo acúmulo de elementos comuns ao cotidiano.
Outro fator fundamental na análise feita pelo leitor é o fato de poucos escritores se utilizarem de aspectos rotineiros para criarem seus textos. Na maioria dos casos, persiste a ideia de que o conto é um flagrante, um recorte especial e que, por isso, trata de um momento singular, resultado de um olhar mais contemplativo. Dalton Trevisan também faz uso da contemplação, mas de um jeito diferente. Descreve uma situação comum, mas desagradável, e obriga o leitor a se deparar com o que a sociedade costuma recusar, quando há essa opção.
O choque do real, nos textos de Dalton, se dá não por ouvir dizer, mas pelo voyeurismo. O efeito da ficção daltoniana é ampliado porque o leitor se torna onisciente, assim como o narrador, que tudo vê, tudo sabe e tudo ouve. Não há barreiras que separem a vida privada da esfera pública. O narrador transforma o leitor em espectador da ação, como se a casa e o quarto fossem cenários montados sobre um palco e ao alcance da plateia.
Fonte: Dalton Trevisan e a literatura do contra (Artigo) - Autora: Verônica Daniel Kobs (Professora do Centro Universitário Campos de Andrade, Curitiba)
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