Visão sobre política

Encontramos nos manuscritos de Porto-alegre uma diferenciação em relação a outros gêneros de narrativa, que falam do passado, e um posicionamento entre as vertentes históricas existentes no século XIX, como a história política e a história sócio cultural,

“Os factos officiaes não são a verdadeira historia, mas sim o envoltorio dos acontecimentos, a parte ostensiva, o resultado das luctas e locubraçoens; são como o bronze relativamente ao individuo. A forma e a vida é obra do esculptor; assim como o aspecto social é obra do historiador, porque d’elle nascem, as causas dos acontecimentos.[...]
Os chronistas mores foram retratistas lisongeiros de poucas personagens, e nunca pintores do povo; os frades so escreveram para si e para o seu bem estar; e os outros [riscado: historiadores], fallavam como quem [riscado: está sendo] sente o calor das fogueiras da inquisição de um lado, e ouve a [antemas] do desterro ou do exterminio do outro.”

Primeiro temos um posicionamento de Porto-alegre frente as vertentes historiográficas de sua época e o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. É claramente uma recusa da história política. Mesmo pertencendo ao grupo palaciano e terminando a vida como diplomata brasileiro, Porto-alegre sempre possuiu um olhar desabonador sobre a política.

O jogo político criado por interesses pessoais - onde nem sempre nomes, ações e motivos são coerentes e transparentes, menos ainda sob a forma de registros - parece ser o local menos indicado para um estudo que deve trazer à tona a verdade, levando-o a uma descrença sobre o meio político, inclusive a sua história.

No imenso formigueiro que move o Estado-Nação, entre chefe de Estado, legisladores e executores, parece muito claro para ele, que muito se oculta. Os nomes dos atores que não aparecem e, muitas vezes, contribuíram significativamente para a realização dos fatos, as intrigas que favorecem os parasitas, as mazelas e os verdadeiros louvores que são propositalmente esquecidos na documentação oficial, apontam para um falseamento das fontes, tornando-as menos confiáveis e dificultando ainda mais o trabalho do historiador. Trabalho este que ele já percebe como inconcluso, incompleto, pela impossibilidade de realmente se conhecer absolutamente o passado.

Os textos que abordam o período da pós-Independência, ao se aproximarem da história filosófica, por trás de uma crítica da razão, acabam revelando muito mais dos valores morais e políticos de Porto-alegre, transformando-se em um tribunal bastante pessoal.

Extraído de:
IV ENCONTRO DE HISTÓRIA DA ARTE – IFCH / UNICAMP 2008
A HISTÓRIA DA ARTE DE ARAÚJO PORTO-ALEGRE
Paula Ferrari
Mestranda PPGHIS-UFJF