O saber de altos saberes

Que remédio? Estando de volta a Desterro, é preciso provocar a ordem, a política e os costumes vigentes na província, abalar a literatura local. Para tanto, o poeta dirige os jornais Colombo e Tribuna Popular. Depois, O Moleque. Quem é esse, o moleque negro, metido a intelectual, poeta e, ainda por cima, a dândi, com suas roupas bem cortadas? Quem, o atrevido? Indicado para a promotoria pública? Impossível!!! Ele evoca a sensação de saber-se capaz, até superior, às vezes, e ser impedido, barrado, excluído, impugnado: é a experiência de “sentir todas as forças contra si, sabendo-se idealmente superior”. (Ivan Teixeira).
Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro,
Ó ser humilde entre os humildes seres.
Embriagado, tonto dos prazeres,
O mundo para ti foi negro e duro.
Atravessaste num silêncio escuro
A vida presa a trágicos deveres
E chegaste ao saber de altos saberes
Tornando-te mais simples e mais puro.
Ninguém te viu o sofrimento inquieto,
Magoado, oculto e aterrador, secreto,
Que o coração te apunhalou no mundo.
Mas eu que sempre te segui os passos
Sei que cruz infernal prendeu-te os braços
E o teu suspiro como foi profundo!
(“Vida obscura”)
Uma vez mais, a imagem da prisão, reiterada tantas vezes: aqui, são os braços presos na cruz. Em seu testamento literário, o poema em prosa “Emparedado”, o poeta aprisionado em muros sociais implacáveis. Num de seus últimos sonetos, a alma encontra-se presa no cárcere do corpo. E agora, aquela figura estranha prende o poeta com sua curiosidade, provocando-lhe um mal-estar desconcertante.
Fonte: www.vidaslusofonas.pt