Nome do Escritor: Carlos Lopes

Notebook

Até que enfim chegou o tão esperado "notebook". Demorou, mas chegou! E eu nem fiquei ansioso, afinal, foram somente 27 dias, 17 horas e 37 minutos de intervalo entre o primeiro contato com a vendedora e o dia "D" apanhá-lo na loja. Isso depois de quase dois anos de espera. Eu digo quase porque na verdade foram apenas 716 dias e meio.
É uma gracinha, diz-me a cara-metade, com aquele biquinho sexy de beijo-na-boca. Mais do que depressa tampei os slots do "note" para que ele não ouvisse, afinal chamar um Pemtiun-133 superdotado de todos os soft/and/hard do momento de qualquer inha ou inho, só porque ele é pequenininho (olha eu escorregando também), é no mínimo um risco de vida. Sim, porque ele pode ofender-se, dar um boot pra mim e travar-se.
Mas a minha esperteza foi providencial e o pequen...er, quer dizer, o magnífico computador nem sequer notou o deslize conjugal, mesmo porque, felizmente ainda não tinha ligado a tomada.
Bom, passado o susto, preparei-me para explorar o novo brinque...er, o novo computador. Abri a tampa, admirei o teclado, a tela colorida, a bolinha de gude que de agora em diante seria o mouse, o drive de 3 ½, o drive de CDRom. . . Ué, cadê o drive de CDRom ? (pensei - pensei mas não falei).
Matreiramente olhei para um lado, olhei para o outro. Cientifiquei-me que a mãe dos meus filhos não estava por perto e malandramente dei uma geral no bicho, frente, trás, direita, esquerda. . . nada, nadica de nada que pudesse parecer com um CDRom. Ah! esses japoneses..., será que diminuíram os CD's e não avisaram pra ninguém. Não, isso já é paranóia, nem os nossos queridos Manoel e Joaquim das nossas piadas seriam capazes dessa "desproeza". Então, aonde está o maldi...er, o CDRom ? Tudo bem, tão afim de gozar com a minha cara. O sujeito paga dois mil e tantos reais para ser sacane...gozado. Não! Comigo não. Não aqui, com o filho de Dona Gigi. Esse mico, o Gorila aqui não vai pagar não. Agora é pessoal, é uma questão de moral, de honra. Como se já não bastasse o vexame do tricolor. Agora me enfezei, virei um vírus sexta-feira-treze. Cadê aquela chave de fenda? E o diacho daquele martelo. Agora você vai ver só com quantos chips se faz um compu...
- Amooor! A vendedora da loja telefonou pra avisar que você esqueceu de trazer o drive do CDRom. Ela explicou que nesse modelo o CDRom é externo, ligado na traseira do Notebook. Mas cadê "elezinho" ?
- Não sei. Tava aqui agora mesmo. Mas ele é tão inteligente que com certeza foi atrás daquela agenda eletrônica boazuda da vizinha.

EMAIL: mmcavl@hotmail.com

Futebol da Paz

Era uma vez, num longínquo continente, dois reinos absolutamente iguais.
Eram tão iguais, mas tão iguais, que ninguém mais sabia quem começou a imitar o outro. O Reino do Leste afirmava que era autêntico e que era imitado pelo Reino do Oeste. Já este declarava que a história era exatamente o contrário, e que o imitador era o Reino do Oeste. A polêmica ficava cada dia pior e a guerra já era iminente, até que um dia o príncipe do Reino do Oeste, que chegara à pouco da Inglaterra, e que de forma nenhuma queria guerrear com o Reino vizinho, pois já estava de olho na beleza da princesa de lá, propôs:
- Porque não disputamos essa lide numa partida de futebol ?
O assombro foi geral, seguido de criticas ferrenhas de como o príncipe poderia sugerir tamanha blasfêmia. Aonde já se viu decidir uma coisa tão importante numa partida de futebol ? e já preparavam-se para dar como encerrada a questão quando o rei, que era puxa-saco de carteirinha do filho, sentenciou:
- Stooooop! Se meu filho acha que isso vai dar certo, nós vamos tentar. E não quero ouvir uma crítica sequer. Continue, meu filho.
- Eu já pensei em tudo. Para que ninguém leve vantagem vamos construir um campo bem no meio da divisa entre os reinos, dessa forma fica metade do campo do lado deles e a outra metade do nosso lado. Convidaremos um árbitro do Brasil para apitar e ..., pensando bem, é melhor convidar um juiz inglês e quem vencer será o dono da verdade. Agora só falta convencer o rei do Leste.
E assim foi feito. O rei do Leste, em princípio não aceitou a proposta, não por ser má Ideia e sim por que partiu do reino adversário. Mas a princesa, tratou de convencê-lo, afinal ela também já estava de olho no príncipe do outro reino.
Marcada a data e acertados todos os detalhes, depois de muita discordância é claro, chegara, finalmente o dia..
Tirado o "toss", o time do Leste escolheu jogar primeiramente no seu campo, para sentir o apoio da torcida e garantir a defesa para depois pensar em atacar. (aonde será que já ouvi essa frase ?). Obviamente o time do Oeste fez o mesmo e o primeiro tempo terminou empatado, sem gols.
Para o segundo tempo, os técnicos fizeram as mudanças necessárias, só que agora os times estavam atacando do lado de sua torcida, mas com sua defesa do lado do adversário, chutando a bola de qualquer jeito pra frente o que ocasionava um ataque capenga e por conseguinte a ausência total de perigo de gol.
E assim foi até o término do jogo e como não haviam combinado nada a respeito de prorrogação ou disputa de penaltis o jogo do desempate social acabou empatado no futebol. E já tinham dado tudo como perdido quando ouviram os aplausos das duas torcidas acompanhados pelos gritos de louvação aos seus times e clamando, ansiosos, por outra partida. Mas o mais importante foi que os governantes e assessores dos dois reinos entenderam que toda aquela manifestação de alegria era pela paixão ao esporte e não pela vaidade imbecil de seus reinos e nem tão pouco por suas ridículas ideologias políticas.
Dessa forma o futebol ajudou a acabar com aquela cisma ridícula entre aqueles dois reinos, que hoje possuem campeonatos distintos e disputam todos os anos, na mesma data do primeiro jogo a Taça Amizade.

Local de Nascimento: Rio de Janeiro RJ

Amor Violentado

Realmente fica difícil para qualquer Anjo da Guarda, mesmo para àqueles formados em uma escola melhor do que os dos Kenedy, proteger a algum morador neste país. Eles, os anjos que aqui atuam, deveriam ganhar dobrado, terem anuênio, biênio, triênio, todos os enio, licença prêmio e, principalmente, adicional por insalubridade e risco de vida (perigo de ter que voltar a viver aqui).
Além das mortes pelos ditos acidentes de percurso (polícia x bandidos = balas perdidas, ou melhor, achadas, nos corpos, na maioria das vezes, inocentes de alguns infelizes "passantes" pelo lugar errado na hora errada) temos:
a) as nossas chassassinas, coisa de primeiro "iMundo", medalha de Lama, tecnologia de ponta-de-faca, que deixam as chacinas racistas sul-africanas e as estudantis americanas no chinelo;
b) as "queima-de-arquivo" de marginais pelos traficantes, de policiais honestos por outros nem tanto, de informantes por traficantes, de traficantes por marginais, de marginais por profissionais, enfim, de todos contra todos, no sistema de turno e returno, priorizando os pontos perdidos;
c) os homicídios, os "mulhercídios", os infanticídios, e todos os cídios inclusive os suicídios como os fabricados no caso PC;
d) os religiosos, que em nome do amor a Deus, ao qual todos veneram, matam-se por discordarem, simplesmente, da maneira como venerar;
e) os esportivos, nos quais transforma-se a alegria de torcer, pelo "matar ou morrer" nas guerras das torcidas;
f) os contraditórios, tipo matar por amor, como se fosse possível matar o, para ou por amor.
Aliás, neste país sem-memória, todos, com certeza, já esqueceram deste episódio que originou mais uma preposição penal - contra o amor - gerada por um advogado, acredite se quiser, criminal, morador em Caxias (RJ), que não satisfeito em reclamar e ameaçar de morte, resolveu agredir um menino de 15 anos, por estar namorando na calçada de sua residência. E mesmo acontecendo a despedida dos namorados e a conseqüente retirada do apaixonado suburbano, não satisfeito o, em princípio estudioso da lei, pegou seu carro, tal qual um senhor medieval montaria em seu cavalo e foi atrás do "menino-colono", alcançando-o em outra rua, já distante do seu "pseudo feudo logradouro" e, pelas costas, covardemente, alvejou-o com projétil mortal, roubando-lhe a vida, fazendo parar um jovem coração recém abundante de amor.
Dessa vez o dragão venceu o cavaleiro.

Local onde vive: Rio de Janeiro RJ

Invasão do M.S.T. - Mendigos Sem Teto

Em um lugar qualquer, desde que seja na Zona Sul do Rio de Janeiro.
A primeira "social-late" - Queriiiiida, estou apavorada, tem um monte daquela gentinha feia, esfarrapada e fedorenta acampada nos portais da minha house.
A outra "social-late" - Você tem certeza, queridinha ?
A primeira "social-late" - Claro que tenho, vi tudo com o meu circuito interno "a cores" de TV. Consegui ler até a faixa: "M.S.T. - Mendigos Sem Teto"
A outra "social-late" - Ih! Queridinha, são "aquele povinho" que gosta de invadir a mansão dos outros para beber vinho, fumar charuto e roubar ferro de passar roupa
A primeira "social-late" - Ai queridinha, o que eu faço ?
A outra "social-late" - Chama sua segurança
A primeira - A minha segurança é muita pequena; é apenas um serviçal para cada mil hectares
A outra - Mas que pobreza queridinha...
A primeira - Pois é amiga, o Carlão diz que com essa recessão temos que economizar. Acredita que ele me propôs que eu mesma cozinhasse para que pudéssemos dispensar a cozinheira ?
A outra - Que horrrrrrrorrrr, e o que você disse para ele?
A primeira - Que se ele cumprisse os deveres de marido podíamos dispensar o motorista, o jardineiro, e etc...
A outra - Muito bem dito, mas voltando a questão principal, porque você não chama a Polícia ?
A primeira - Já tentei. Estão todos fazendo um bico de segurança no churrasco de um chefão das drogas, na periferia
A outra "social-late" - Então chama o exército
A primeira - Estão tomando conta da mansão dos amigos dos primos do irmão da tia do vizinho do diretor do Colégio Planalto, o Errando Enrrico Vaidoso
A outra - Mas afinal o que você tem de tão improdutivo para eles quererem tomar
A primeira - Só se for o poia do meu marido. Aquilo é improdutivo materialmente, espiritualmente e principalmente sexualmente
A outra - Então queridinha se prepare para ser invadida
A primeira - Ui! Senti até um frenesi. Tchauzinho
A outra - Amiiiiiiga, amiiiga, não é nesse sentido.
Nada mais adiantava, a outra já desligara o telefone sonhando ser feito com ela o que os governantes adoram fazer com seu pobre povo.

“Carioca” de nascimento, brasileiro, casado há 23 anos, pai de três filhos; Sou Espírita, Maçom e Rosacruz; Radialista, Locutor e Comentarista Esportivo; Escritor, Cronista e Dramaturgo; Ator, Professor e Diretor Teatral; Cantor, Compositor e Violeiro.

Cem contra Um

As sirenes e o estrondoso burburinho acordaram dona Cacilda de sobressalto:
- Meus Deus, mas o que é isto ? Será que o mundo tá acabando ?
De camisola mesmo levantou-se rapidamente; esquecendo da artrite, sinusite e outros "ites" que teimava em possuir; e correu para a janela de seu quarto que dava para a rua e gritou para o primeiro que passava:
- Ei! Você aí! Que que tá havendo ?
- Não sei minha senhora, to tentando saber ?
- Mas como não sabe ? tá aí na rua fazendo o que, vendo a banda passar ? mas que incompetência desse povo. Eu vou é ligar pra Gertrudes.
Por alguns segundos ficou em dúvida se pegava o telefone pois poderia perder alguma coisa interessante, mas depois optou por ligar já que não via na multidão ninguém conhecido e os que ela aleatoriamente chamava não lhe davam a mínima atenção, talvez também tentando entender.
- Ah! Dona Cacilda mamãe não tá aqui não, ela foi pra rua pra ver a confusão. Ué!, a senhora tá perdendo essa ? que foi, tá doente ou tá surda ?
Cacilda ia dizer pro Alfredinho quem era a surda, mas como já tinha perdido muito tempo preferiu bater com o telefone na "cara" dele, o que simbolicamente valia a mesma coisa, e saiu porta fora, de camisola e sem dentadura.
Depois de vencer as primeiras barreiras humanas, atropelando quem estivesse na sua frente, foi barrada por um cordão de isolamento, formado por mais ou menos uns trinta policiais municipais, que gritavam palavras desconexas, intermediadas por palavrões, uns até que ela nem conhecia. O barulho era imenso, mas mesmo assim, Cacilda conseguiu, com seus ouvidos de alcoviteira formada, perceber a conversa entre alguns policiais.
- Chama a PM. Chama os colegas da Militar...
- Já chamaram. Eles tão chegando com o pessoal da "SUATI"
- E os "bombeiro" ?
- Disseram que só vinham, se tivesse fogo ou morto
- Isso a gente arranja é só jogar querosene na barraca e riscar um fósforo. Aí eles vão ter incêndio e cadáver ao mesmo tempo
- E a COMLURB ? tem que limpar tudo pra não deixar pista
- Essa só vem depois do cara do trator
- Que cara do trator ?
- O que vai botar tudo abaixo
- Mas cadê ele ?
- Tá engarrafado na Avenida Brasil
- Então não vai chegar a tempo é melhor a gente agir
- Pra que a pressa ? o prazo era até amanhã
- Mas o sargento não sabia escrever sexta-feira e mudou pra quinta...
- Então a gente tem que agir
- Olha, a Tropa de Choque da PM tá chegando
- Que beleza de procedimento. "Num" instante chegaram aqui na frente e só precisaram arrebentar a fuça de uns vinte
- Fora a velhinha, da camisola
- Pensei que eles não iam ver a velhinha
- Por pouco a Kombi não pega
- É!, mas o caminhão não errou
- A Polícia Rodoviária tá chegando, junto com o pessoal da Civil
- Agora vai...
- Vai o quê ?
- Vai ter tiro pra tudo o que é lado
- Então tá na hora
- Não, espera, vamos coordenar pra atacarmos todos juntos, de uma só vez. Aì pessoal, contagem regressiva. Dez, nove, oito ...... é..... Já
E de uma só vez todas as cem "ortoridade" avançaram heroicamente contra a barraca de artesanato do pacato Getúlio, figura querida entre os moradores de Santa Tereza, destruindo toda a periculosidade que sua arte possuía. Não deixando cultura sobre cultura.
Enquanto isso, nas ruas do centro da cidade, camelôs vendiam todo o tipo de mercadoria, legitimamente pirateadas do Paraguai. Sem falar dos assaltos, dos assassinatos, dos seqüestros...

Eu quero ser Juiz

- Pai, já sei o que vou querer ser quando crescer.
- Oh, Filho, que bom! E o que vai ser ?
- Juiz.
- Juiz de Futebol! ? Nem pensar. Eu não quero ser xingado de corno, por tabela.
- Não entendi?!
- Já pensou, você sendo "reverenciado", num estádio lotado, como filho de uma prostituta ? Eu como seu pai e, por conseguinte, marido da mesma, só posso ser o quê ? Nem pensar!
- Acho que o senhor está viajando na maionese ! Não é esse tipo de juiz que eu quero ser.
- Então é juiz de Programa de Calouros ? Bom, até vai, mas só se for da Televisão, que eles pagam bem e você acaba ficando famoso. Se for em Rede Nacional então, nem se fala! Agora vê se coloca somente músicas de categoria, MPB, Forró Pé-de-Serra, Seresta... Nada daquelas músicas pula-pula da Bahia e muito menos do nível da "Eguinha Pocotó".
- Pai! Tem nada a ver! Eu não quero ser juiz na Televisão ...
- No Rádio é que não dá. Ninguém patrocina mais este tipo de programação, aliás, nem essa e nenhuma outra. A verdade é que o rádio nacional está morrendo. O Sergipano então, só sobrevive às custas de alguns abnegados voluntariosos. Ah, como era bom antigamente. A gente já acordava com o radinho ligado, ouvindo música, escutando as notícias ou até mesmo ouvindo as rádio-novelas, imaginando cada cena e ...
- Pai! Não delira. Não é nada disso
- Não vai me dizer que é juiz de Animais de Raça ? Não vou permitir é muito perigoso. Vai que um cachorrão daqueles fica com raiva porque não ganhou a Fita Azul e resolve tatuar com os dentes, uma lembrancinha bem lá no seu "traseiro", tipo: "Sou Pluto, porque sou filho da Pluta"; ou então, que um "gato de madame", frustrado por estar ridiculamente vestido ou revoltado por ter sido precocemente castrado, resolve escrever na sua cara, com suas unhas afiadas, um desabafo revoltoso pra Sociedade Protetora dos Animais.
- Pai! O meu tipo de juiz é muito melhor.
- Ah, seu sabichão, agora eu saquei. Você quer ser juiz de Concurso de Beleza. Excelente Ideia. Ficar examinando aqueles "mulherão" desfilando de maiô... agora deve ser de biquíni. Aqueles "coxão"! Aqueles "peitão"! Aquele bun..., quer dizer, ancas! E ainda ser pago pra isso!
- Não, Pai! Não é nada disso! Não é isso que eu quero pra mim.
- Não gostei "nadinha" da ênfase dessa sua negação. Só não vai me dizer que você quer ser juiz de Moda, que eu te dou uma "bifa" e te ponho num colégio Interno... de padres... Pensando melhor, tira os padres, deixa somente o colégio interno.
- Pai! Eu quero ser Juiz de Direito.
- Deus seja louvado! Que susto que você me deu. Pensei que você fosse ... Deixa pra lá. O que interessa é que você escolheu uma ótima profissão, mas saiba que vai ter que estudar muito pra chegar lá.
- Mas no final, vai valer a pena e eu já tenho os meus planos traçados.
- No início, você vai se formar advogado e já deverá conhecer a Legislação muito bem, para procurar nas brechas da Lei, o melhor caminho para sair vitorioso ...
- A Georgina do INSS, já me ensinou como fazer.
- ... passado alguns anos de experiência, estudar ainda com mais afinco, para prestar concurso para Juiz e assim tornar-se um cidadão respeitável, honesto e exemplar para toda a população...
- O juiz Lalau já me mostrou como.
- ... depois, passar no concurso para Juiz Federal e aí ...
- Aí, o senhor chegou aonde eu queria. Ser Juiz Federal ! Poder mandar e desmandar. Usar a Lei em meu favor. Usufruir as prerrogativas inerentes ao cargo. Vender sentenças por altas somas de dinheiro e, se por uma acaso da fatalidade for pego, ter como castigo a terrível pena de me aposentar forçosamente, com vencimentos, é claro.
- Esse é o meu Garoto!

Data de Nascimento: 25/02/1954

Campeonato de Rolimã

Roubinho Burrinchinelo nasceu em uma favela do Rio de Janeiro, e como tal, desde cedo, teve que ir a luta, trabalhar pra ajudar a família, pobre porém honesta, das poucas que ainda não aderiram a vida mais fácil e mais perigosa do tráfico de drogas.
Tentou primeiramente ser engraxate. Não deu. A recessão cortou da ex-classe média esse pequeno luxo, obrigando aos próprios donos a lubrificarem seus pisantes. Em seguida veio a venda de balas no trem, que no início, com a ajuda do pagode do Zeca até "rendeu algum", mas que no final acabava sendo tomado pela malandragem de plantão. Por último, "alugou" um carrinho de feira de rolimã e começou a fazer frete de mercadorias para as empregadas das madames da Zona Sul.
De tanto correr com seu carrinho de madeira pelo asfalto, esquivando-se dos outros de metal, adquiriu uma agilidade impressionante que o ajudava a fugir da polícia, dos concorrentes e de ser roubado pelos garotos maiores. A sua ginga moleque aliada ao bom-papo e a pequena estatura, rendeu-lhe a preferência no serviço de frete, isso sem falar na honestidade da entrega da mercadoria no local certo e na quantidade certa. As barracas de feira acampadas todo dia em uma rua diferente, lhe deram a experiência de conhecer vários percursos, de fazer pit-stops cada vez mais rápidos e de desenvolver uma velocidade extraordinária entre uma entrega e outra.
E a vida de Roubinho seguiria nessa rotina não fosse a futilidade dos "filhinhos-de-papai"; que enjoam tão rapidamente de seus ricos brinquedos, ganhos facilmente, como exigem reposições à altura; "descobrirem" mais um esporte radical, a pilotagem de rolimã. Da descoberta a pole position do mais novo modismo dos riquinhos nacionais, foi um pulo, ou melhor uma volta, e em tempo recorde, os afortunados já tinham à sua disposição toda uma gama de produtos para o gênero, desde carros sofisticadíssimos, com rolimãs importadas, assento acolchoado e direção hidráulica; até uniformes completos, do tênis ao capacete, das principais scuderies da F-R (Fórmula Rolimã).
Mais rápido do que uma volta em circuito da F1, os gananciosos e oportunistas empresários do esporte "enxergaram" na novidade, mais uma grande oportunidade de se enriquecerem às custas dos outros e organizaram o "Primeiro Campeonato Nacional de Rolimã", que deveria ser disputado em circuitos a serem criados por todo o país, por equipes compostas de dois pilotos, à exemplo da sua co-irmã mais famosa.
Imediatamente foram criadas várias escuderias, pois todos os "riquinhos" queriam ser o piloto nº 1. Isto ocasionou um grande problema, como preencher a vaga do piloto nº 2? Após muitas Ideias, vaidosamente rejeitadas, alguém lembrou dos profissionais das feiras e no dia seguinte, em meio ao trânsito de freguesas e feirantes, um batalhão de engravatados caçavam "sparing" para o deleite de seus mimados filhos.
Numa dessas Roubinho foi convidado e aceitou participar da Equipe da "Ferrados", desde como segundo piloto. Ele não sabia e nem queria saber o que era ser o piloto nº 2, só pensava no prazer de poder correr com seu rolimã pelas ruas da cidade sem ser molestado e ainda ganhar uma graninha.
No dia da corrida podia-se, facilmente, distinguir os primeiros dos segundos competidores de cada equipe. O contraste começava já no grid de largada. Sem combinação prévia e sem treinos de melhor tempo, foi sorteada a ordem de colocação dos pilotos. Obviamente, na frente os filhinhos dos donos das equipes, com seus carrinhos super-equipados, confeccionados por encomenda, de madeira leve e rodinhas de rolimã hiper-lubrificadas; uniformes novíssimos, de cor reluzente, sapatos especiais e capacetes munidos de rádio Am/Fm/Receptor/Transmissor; e nas últimas colocações os meninos das feiras, com seus carrinhos desgastados, feitos de madeira de caixote e rolimãs enferrujadas; bermuda surrada, camiseta rasgada, chinelo de dedo e boné furado.
Ninguém, em sã consciência, levava fé no segundo escalão. Era uma triste farsa pra cumprir exigência da regra e fazer média social. O percurso seria de cinco voltas ao redor da, outrora linda, Lagoa NãoLigo de Feitos. Tudo pronto, foi dada a largada. A primeira volta foi completada por todos os 24 concorrentes das 12 equipes; a segunda, por oito pilotos nº 1 (dois capotaram por barberagem e dois não agüentaram o pique) e 7 do segundo escalão (cinco carros quebraram); na terceira volta começou a desenhar-se uma grata surpresa, dobradinha da "Ferrados", atrás do líder Macalé ShoMarketing, aparecia o nosso simplório Burrinchinelo seguido somente por três pilotos dos riquinhos (um foi retirado pela mãe, um foi ajudado pelo pai e desclassificado e os outros três enjoaram da brincadeira e desistiram), Na penúltima volta Roubinho já era o líder disparado seguido, muito atrás, apenas pelo lourinho, piloto nº 1 da sua equipe. A vitória já estava garantida. A torcida, agora quase que toda sua, vibrava.
Eis que, ao fazer uma curva, no lugar mais ermo do circuito, Burrinchinelo foi interceptado abruptamente por uma "Blazer" negra, de onde soltou um louro alto, de fala esquisita, carregada nos "erres", que lhe propôs dar cem reais para que abandonasse a corrida e deixasse seu filho ganhar. Por alguns segundos Roubinho hesitou, mas a barriga roncou mais alto e com a mesma velocidade que ganhava a corrida arrancou a nota da mão do "alemão" e sumiu morro acima.
Mais tarde, lá no alto da favela, ainda via e ouvia os fogos de artifício que comemoravam a vitória do "inimigo" de equipe e quase se arrependia, mas ao olhar pra dentro do seu barraco e ver a alegria de sua família comendo um suculento bife, convencia-se de que tinha tomado a decisão certa.

Site/Blog: Somente no Site do Escritor

Campeonato Mundial de Futebala

Enquanto isso em algum morro de alguma Metrópole...
- Finalmente sediaremos um mundial
- Qual o de 2010 ?
- Não, o de 2002
- Surtou ?, o de 2002 começa nesta semana no Japão e na Coréia
- De que mundial você está falando ?
- O de Futebol
- E eu o de "Futebala"
- Futebala ???
- Melhor dizendo, "Campeonato Mundial de Futebala". Ia ser mundial, mas infelizmente nenhum outro país aceitou o convite, eles acham que nossos "times" são franco favoritos e não perdem pra ninguém
- Mas de que times você está falando ?
- Por exemplo, da Colômbia viria o "Sport Cube Coca-Ima", dos Estados Unidos o "Craks Futebol Clube" e da Jamaica, não poderia faltar o "Má Cunha Futebol e Regatas", já que lá é uma ilha
- Que times esquisitos !!!
- E o pior é que são umas "drogas"
- Então não vai ter mais campeonato ?
- Claro que vai, só que com os times daqui mesmo
- E quais são esses times ?
- Bem quando os "internacionais", medraram, fizeram a "carreira" e meterem o "pó" na estrada, os "chefes" dos morros resolveram dividir o campeonato em 16 favelas, com confrontos diários, todos enfrentando todos, com turno e returno. O problema é que alguns times-favelas estão localizados no mesmo bairro, e aí a rivalidade é bem maior, tanto que não dá pra disputar nenhum "inamistoso"
- Por que não?
- Porque eles levam tão a sério a inimizade, que não dão moleza. "Fungam" no cangote, matam homem-a-homem e a partida não acaba por falta de jogadores
- Saem todos contundidos !
- É, alguns ainda dá pra salvar quando chegam a tempo nos hospitais, mas outros não tem jeito, vão direto pros cemitérios clandestinos
- Não to entendendo !!!
- Explico. Outro dia, tentaram um inamistoso entre o "Coroa" e o "Mineira". Não deu certo. O pau comeu, dentro e fora do campo, as torcidas brigaram e foi tiro pra tudo que foi lado. Chamaram até a Polícia para conter o tiroteio, mas aí os dois times se uniram - porque eles podem se detestar, mais odeiam mais a PM - e tome tiro nos tiras
- Que confusão !!!
- E tende a ficar pior, porque os times do Estácio estão na mesma chave do Engenho Novo; e o "Macacos", de Vila Isabel vão enfrentar o "Dendê" da Ilha do Governador. Aí vai ser um "Diabo nos acuda", pois nesse inferno, Deus não entra.
- Mas não existem Federações para organizar este campeonato ?
- Claro que existem. Tem 3 principais Fé-de-Razões, a "CV - Carcamano Vermelho", a "TC - Tiroteio Como-eu-mando" e a mais recente a "IDA - Inimigos dos Amigos".
- Então qual é o problema ?
- O problema é que cada uma tem seus afilhados-afiliados, que na hora do pega-prá-capar, só querem enfrentar as equipes das outras Fé-de-Razões, e é aí que se correr o bicho atira nas costas e se ficar o bicho atira na testa".
- Não entendo !?!?!?
- Acontece que os "jogos" quase sempre são à noite e quando começa a esquentar, ou seja quando um dá uma entrada - de bala - mais violenta no outro, todo mundo briga e os "escopetas", como são chamados os torcedores da casa partem pra cima dos "AR-15", apelido dos torcedores visitantes, que imediatamente "quebram os refletores" do estádio ou do município e aproveitam a escuridão, para revidar à altura. O triste é que alguns revides atingem os trabalhadores honestos que não fazem parte desse jogo, ou acontece o pior, uma "bala perdida" acaba "achando" um corpo de um ou uma "gandula".

Livros publicados: Peças de Teatro - "O Roubo do Toca-Fitas"; "Casamento na Raça"; "O Camaleão Doidão"; etc...

Fome Zero

Pera aí.
Sou eu que estou insensível ou realmente tem algo de podre na República das Bananas ?
Sim, porque estou me sentindo como um "traidor da pátria", um "Judas Iscariotes", um "Marcelinho Carioca"
Mais frio do que a Groelândia no inverno.
Mais calculista do que o projeto petrolífero de Bush no Iraque.
Será que fiquei caduco e a família nem sabe ?
Só não posso ficar mais chato do que o Itamar Franco, porque senão nem eu me agüentaria.
O fato é que não consigo me solidarizar com a propaganda televisiva, na qual o atual governo me "intima" ou intrinsecamente ordena, na forma de uma lavagem cerebral, a contribuir para a erradicação da fome no país, como se isso fosse minha obrigação, não bastasse ter que sustentar os "adotados" impostos: federais, estaduais, municipais e marginais; ter que alimentar o "Leão" lá da "fazenda", nutrir as taxas e sub-taxas, tais como as propinas, as gorjetas e os "por debaixo do pano", além é claro de dar o "de beber", a tal da "cervejinha", para que aqueles que têm a obrigação de fazer, façam de forma correta, o que deveriam fazer, pois para isso são pagos.
Um dos lixeiros da minha rua vive me pedindo um "troco" e mesmo depois de minha constante negativa, continua insistindo, todas as terças, quintas e sábados. Minha esposa Virginia, que é sempre muito calma, já está começando a se irritar com os "Amiguinha-me-dá-um-real", às vezes até inflacionado, para dois, cinco e até dez.
O Governo não precisava gastar uma fortuna com campanha publicitária, bastava mandar um convite personalizado para os 5% da "Classe "A" (Alta), que são o$ Mega-Empresário$, o$ Coronéi$, o$ da família "Azul-Marinho", o$ Bilionário$, o$ Milionário$ & Zé Rico, é $ó US$; um e-mail para os 10% da "B+" (+Beneficiados), que possuem computador, tipo empresários, políticos, jurídicos, funcionários das Estatais, do Banco do Brasil, da Petrobrás, cartolas e craques de futebol, entre outros; e um simples bilhete para os 15% da "B-" (- Beneficiados), grampeado nas contas de luz. Os 70% restante são o somatório, das antigas classe "C" (Conformados), "D" (Desesperados), acrescidos as novas classes imergentes, "E" (Empobrecidos) e "F" (Fu...piiiiiiiiiiiii), que agora fazem parte do mesmo "saco", vazio, ou seja a sub-classe "M" (Miseráveis).
Dona Amandina, minha vizinha ranzinza, esposa do seu Julião, gente boa mas ruim de abrir a mão, ouviu meu comentário na banca de jornais e imediatamente voou sobre mim como um Helicóptero Apache e bem antes que eu me pusesse em abrigo anti-aéreo, lançou-me uma daquelas bombas, de frases-feitas:
- Queria ver se fosse você que estivesse passando fome, ou alguém da sua família.
Já me preparava para sair dos "escombros" e retrucar, quando fui salvo por seu marido.
- E tu ? Também não vai fazer nada, porque eu não vou dar o meu rico dinheirinho, ganho com muito suor, pra sustentar projeto social do governo. Manda ele pedir, pedir não, tomar de volta o dinheiro roubado pelo Juiz Lalau, pela Georgina, pelos superfaturamentos que dá pra encher muito bucho. E por falar nisso, deixe de fuxicar a vida dos outros e vai tratar do meu "de comer", que é o que nos interessa.
Sem querer seu Julião, que tomou minha posição mais para salvaguardar seu numerário do que propriamente opor-se ao governo, acabou criando uma teoria bastante interessante. Se é ele, assim como todos nós chefes(as)-de-família, que temos de prover o sustento dos "nossos", então cabe ao chefe-do-governo, providenciar alimentação aos seus "filhos" mais carentes.
Como último recurso poderiam recorrer, talvez até quem sabe, aos Duques, Marqueses, Condes e Barões do "Pó", e eu sugiro até o slogan: "Os de origem nada nobre ajudando a todo pobre".
Ih! Viajei ...
Perdão, Mauro Rasi, aonde quer que você esteja.

Formação Acadêmica: Superior incompleto - Direito

Guerra ou Paz

Estava eu, saciando minha sede de informações, lendo "O Estado de Sergipe", quando ouvi aquele pigarreado infantil, por mim bastante conhecido, que sempre prenunciava um questionamento polêmico, mascarado em uma simples dúvida estudantil.
- O Pai ! Dá para o senhor me elucidar uma dúvida?
Não é exagero, nem "corujice" minha não. "Vitinho", meu primogênito, fala assim mesmo. Embora tenha apenas 14 anos e pequeno porte, se expressa muito bem, escreve até bem e tira notas, não tão bem assim.
- Desembucha, filho. O que é dessa vez?
Ele fez um suspense "hitchcockeano", próprio para a ocasião, pigarreou, tentando purificar a voz mutante, infanto-juvenil e fulminando-me com aquele olhar maroto de quem vai perguntar algo já sabedor da resposta, inquiriu:
- Por que os judeus e palestinos, que vivem brigando há anos uns com os outros, para resolver suas diferenças, agora que se deslumbra uma situação de paz, começam a brigar entre eles mesmos ?
Eu sabia que vinha algo desse nível e já estava preparado com o meu discurso preliminar:
- Boa pergunta, meu filho. A situação parece incoerente mas para tudo há uma explicação - disse eu, quase que filosofando - Senão, vejamos !
- Pai, só peço que sejas sucinto pois ainda tenho que terminar a pesquisa e para isso preciso desta informação.
Quase que desabo, juntamente com a pose de imortal acadêmico que vestira para impressioná-lo, mas agarrando-me ao que restava da minha dignidade e a algumas notícias recém lidas na Internet, endireitei-me e sintetizei, secamente:
- A paz entre esses povos fere a interesses particulares.
- Sim, isso eu sei, mas e daí?
- Daí, o que? É isso! Não pedistes para que eu fosse conciso?
- Conciso! Bonita palavra, sinônima de sucinto, reduzido, breve. Mas agora deixando de lado o seu amor-próprio ferido, será que o senhor poderia responder, realmente, a minha questão? Se servir de incentivo para estimular o seu brio, somente pergunto-lhe, pois confio na sua cultura e sapiência.
Refeito da queda momentânea do meu ego, agora devidamente massageado, enaltecido e estimulado, retornei ao trono paterno abdicando da pseudo-realeza e continuei:
- Algumas pessoas, de cada um desses povos; extremistas por natureza; querem a paz, mas não cedem em nenhuma das suas reivindicações; outras, mais condescendentes, diferem de parte do acordo, são irredutíveis mas, estão abertas a novas negociações e, infelizmente, uma minoria, que é a mais perigosa, não quer o fim do conflito pois precisa dele para satisfazer seus interesses pessoais, sejam eles materiais, políticos ou financeiros.
- Mas quem decide não são os Premiers?
- Em princípio, sim, mas ...
- Mas o que?
- O Premier de Israel, Ariel Sharon, depende da aceitação popular; do mercado financeiro e da obediência dos colonos israelitas, ocupantes das terras tomadas dos inimigos e principais futuros prejudicados. Já o Premier da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, depende do bom humor de Yasser Arafat; que o nomeou para o cargo; do compromisso e fidelidade dos grupos terroristas, totalmente desconfiáveis e desconfiados e da aceitação dos grupos radicais palestinos que já se manifestaram avessos ao acordo, alguns até com ramificações terroristas como o Hamas, que seria melhor nomeado como "Hodeias".
- Mas se os governantes já se decidiram pela paz, é um passo importante para que ela realmente aconteça e a mídia mundial não os deixará retroagir
- A mídia não, mas um projétil, faca ou bomba, sim. Foi dessa forma que eles "retroagiram" com o ex-premier Yitzhak Rabin, em 1995.
- Assim fica difícil!
- Tenho dito.

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