Rápidas e Brejeiras

Cem Anos Sem Arthur Azevedo

É um espetáculo composto por 13 esquetes humorísticos escritos por Arthur Azevedo entre 1906 e 1908 e publicado no jornal “O Século”, do Rio de Janeiro.

Com um tom mansamente satírico e através de diálogos rápidos e diretos, Arthur Azevedo comentava os acontecimentos mais importantes da época, inovando, dessa a crônica brasileira e tumultuando a sociedade local.

As rápidas transformações desse começo de século e o avanço implacável da modernidade causavam um verdadeiro “bota abaixo” nos antigos padrões sociais.

Em Rápidas e Brejeiras dois personagens das crônicas de Arthur Azevedo são tirados das páginas dos jornais pela imaginação dos leitores e invadem o palco. De uma forma divertida e irreverente, encenam o dia-a-dia mostrando conflitos e polêmicas causadas pelas inovações do começo do Século XX, em uma amorosa homenagem ao teatro.

Encenado pelo grupo “Oi Nóis Aqui”, o espetáculo é composto por 13 esquetes extraídos de Teatro a Vapor. Idealizado para ser encenado tanto em palcos convencionais como em espaços alternativos, seu humorado conteúdo fornece uma Ideia clara sobre importantes acontecimentos ocorridos entre 1906 e 1908 e as suas repercussões na consciência popular.

Sempre que um novo século irrompe a história, traz consigo mudanças significativas e, com elas, mudanças de padrões sociais e culturais. Com a chegada do século XX foi assim, não sendo diferente no recém iniciado século XXI. Achamos de suma importância a análise e a comparação dessas transformações. O teatro, com sua forma viva e dinâmica permite que essa reflexão seja feita de uma forma lúdica e bem-humorada.

Arthur Azevedo, nascido em 1855 e herdeiro direto das comédias de Martins Pena, reagiu contra a má qualidade que invadia os palcos no começo do século XX, resgatando a dignidade e a categoria do gênero teatral.

Autor de mais de duzentos títulos, entre comédias, revistas, burletas, vaudevilles, traduções e adaptações, ainda cultivou o conto e a poesia humorística, além de ter sido crítico e jornalista.

Sem dúvida, foi um dos maiores dramaturgos e batalhadores do teatro brasileiro, um verdadeiro animador do movimento cênico.

Possuidor de uma grande teatralidade teve o dom de falar diretamente à platéia através de uma linguagem fluente, natural e popular. Captava facilmente as variações e estados de ânimo de seu público e, assim, conservava-se sempre na moda.

Não houve um setor de teatro que permanecesse estranho a este animador. Nomeado em 1908 Diretor do Teatro da Exposição Nacional, erguido na Praia Vermelha do Rio de Janeiro, Arthur Azevedo encenou, em menos de três meses, quinze originais brasileiros.

A leitura de seus textos tem, hoje, o sabor de uma gostosa viagem ao Brasil do começo do Século XX, animada pelo estilo ímpar e o humor refinado de Arthur Azevedo.

Arthur Azevedo, entre 1906 e 1908, publicou inúmeros esquetes ou sainetes humorísticos no jornal “O Século”, do Rio de Janeiro. Com um tom mansamente satírico, comentava os acontecimentos mais importantes da época, através de diálogos rápidos e diretos, inovando dessa maneira a crônica brasileira e tumultuando a sociedade local.

“O Rio Civiliza-se!” Esta manchete aparecia em todos os jornais. Era a palavra de ordem de uma Capital Federal que lutava para entrar no Século XX saneada e modernizada, atraindo capital estrangeiro e imigrantes. Enfim, abrindo perspectivas de progresso.

Era a futuro tentando apagar o passado, através do avanço implacável da modernidade. Eletricidade, aumento da população, campanhas de saneamento, derrubada dos cortiços, novas avenidas, novas máquinas, nova moda, novos hábitos, nova cultura, nova mentalidade científica, a sociedade vivia um verdadeiro “bota-abaixo” de seus antigos padrões.

As dezenas de personagens criados por Arthur Azevedo mostram os conflitos e polêmicas causadas por essas transformações.

A Reforma Ortográfica, De Volta da Conferência, Quem pergunta Quer Saber, O Cometa e Senhoritas mostram a dificuldade de entender os acontecimentos, o provincianismo ainda bastante arraigado e a necessidade de aparentar um interesse pela cultura erudita que vinha da Europa.

A Casa de Suzana, As Pílulas de Hércules e Por causa da Tina versam sobre as temporadas teatrais e a reação da sociedade local.

A crise da autoridade paterna como prenúncio de um tímido feminismo, que se manifestaria mais fortemente nos anos 20 aparece na crônica: O Susto.

A descoberta dos microorganismos, as sistemáticas inspetorias de higiene e a nova consciência sanitária são o tema de Higiene.

A necessidade de moralizar as leis e os costumes aparece em O Cancro, e os pequenos e grandes crimes, que já marcavam sua presença na cidade, são mostrados em A Ladroeira.

E, finalmente, O Poeta e a Lua, analisa essas transformações à luz da poesia e do lirismo.

Em “Rápidas e Brejeiras”, dois personagens das crônicas de Arthur Azevedo são trazidos à vida pela imaginação do público, saem das páginas dos jornais e invadem o palco. Trazendo duas malas com seus estranhos figurinos, aceitam em representar os múltiplos personagens de Arthur, em uma homenagem amorosa ao teatro.

O cenário, com seus elementos revestidos em preto e estamparia de jornal lembra constantemente ao espectador que as crônicas que estão sendo encenadas, assim como os acontecimentos abordados, foram impressos e perpetuados nas páginas dos jornais da época.

Seus elementos – cadeiras, araras e cabides – transformam-se a cada cena, dando ao espetáculo uma linguagem ágil e dinâmica.

Os figurinos utilizam as cores verdes, amarelas, azuis e brancas, distribuídas harmoniosamente em cada cena. De tecido leve e transparente, quebram a rigidez do realismo e trazem ao presente, de uma forma lúdica, as vestimentas do passado.

A música traz à cena importantes compositores brasileiros da época, com seus ritmos e melodias características: a modinha, o lundu, o maxixe e o tango brasileiro.

Os atores, com uma interpretação bem humorada e quase farsista, dão o tom brejeiro ao espetáculo, tom este, típico das sátiras de Arthur Azevedo. No desenrolar dos quadros eles retiram as folhas de jornais dos painéis, apresentam as notícias e em seguida partem para a sua representação. Os figurinos, retirados das malas, são pendurados nas araras após o seu uso.

No final do espetáculo um grande cabide com as cores da bandeira nacional se faz presente no palco, e o público poderá refletir se é mera coincidência a semelhança entre certos temas atuais e os daquele período.

Nessa gostosa viagem no tempo, o humor fino e irreverente de Arthur Azevedo está sempre presente.

FICHA TÉCNICA: Autor: Arthur Azevedo - Direção: Christina Trevisan - Elenco: Richards Paradizzi e Octacilia Cabral - Local: TEATRO MUNICIPAL

Fonte: www.indicapira.com.br