O menino com olhos de gigante

Pintor e escritor, 1893 - 1970
AS PESSOAS QUE EU MAIS ADMIRO SÃO AQUELAS QUE NUNCA ACABAM... QUANDO TUDO ACONTECEU...

1893: Nasce em S.Tomé e Príncipe - 1896: Morte da mãe. - 1900: Entra como aluno interno no Colégio dos Jesuítas, em Campolide. O pai casa novamente - 1905: Redige e ilustra jornais manuscritos - 1910 : É extinto o Colégio dos Jesuítas. Vai para Coimbra - 1911: Lisboa. Ingressa na Escola Internacional - 1915: Escreve o Manifesto Anti-Dantas - 1919: Vai para Paris - 1920: Regressa a Lisboa - 1925: Pinta dois painéis para a Brasileira do Chiado - 1927: Parte para Madrid - 1932: Regressa a Lisboa - 1933: Casa com Sarah Afonso - 1934: Nasce o filho José - 1938: Conclui os vitrais da Igreja de Nª Senhora de Fátima - 1939: Morre o pai em Paris. - 1943: Faz os estudos preparatórios para os frescos da Gare Marítima de Alcântara - 1954: Pinta o retrato de Fernando Pessoa para o restaurante Irmãos Unidos - 1966: É eleito membro honorário da Academia Nacional de Belas Artes -1967: Recebe o Grande Oficialato da Ordem de Santiago e Espada - 1970: Morre em Lisboa.

Almada entra no Colégio dos jesuítas. E, entretanto, o que está a acontecer no resto do mundo. Consulta a Tábua Cronológica.
Participa no lançamento da revista ORPHEU e lança o Manifesto Anti-Dantas. E, entretanto, o que está a acontecer no resto do mundo? Consulta a Tábua Cronológica.
Escreve o Ultimatum Futurista. E, entretanto, o que está a acontecer no resto do mundo. Consulta a Tábua Cronológica.
S. Tomé e Príncipe. O tenente de cavalaria António Lobo de Almada Negreiros é o administrador do Concelho de S.Tomé. Já fundou vários jornais e nunca deixou de se dedicar ao jornalismo. É um estudioso dos problemas coloniais. A mulher, Elvira Sobral, é natural de S.Tomé. Foi educada no Colégio das Ursulinas, em Coimbra. Vivem na Roça da Saudade. Local onde no dia 7 de Abril de 1893 vêem nascer o seu primogénito. Terá o nome de José Sobral de Almada Negreiros. Terão ainda outro filho de nome António. O lugar é ideal para uma infância tranquila. Porém em 1896 Elvira Sobral morre. As crianças são ainda muito pequenas. Ficarão algum tempo em S.Tomé.
Em 1900 António Almada Negreiros é nomeado para a exposição Universal de Paris. O Pavilhão das Colónias estará a seu cargo. Acabará por aí fixar residência voltando a casar.
Em Lisboa, os filhos estão agora em idade escolar. A educação das crianças fica a cargo dos Jesuítas, os quais têm uma herança de poder no ensino da aristocracia. Entram como alunos internos no Colégio de Campolide.
José de Almada Negreiros tem sete anos. Uns olhos grandes para ver o mundo. Aos doze anos dedica-se já às letras e ao desenho. A República e o O Mundo são títulos de jornais manuscritos em que ilustrações e textos são da sua autoria. Não é vulgar um menino ser usado assim.
Em Portugal as águas agitam-se. A política está em ebulição. Os partidos monárquicos não se entendem. Todos ambicionam o poder. Enquanto isto, os republicanos unem-se, movimentam-se. A 5 de Outubro de 1910, a Revolução. É a implantação da República. Muitos são perseguidos. Novas ideias adoptadas. Combate-se o passado. O anti-clericalismo grassa. Não tinha sido a Igreja o grande protector do poder? É preciso remodelar. Os Jesuítas são uma elite. A sua influência deve acabar. O Colégio de Campolide é extinto.
Vai para o Liceu de Coimbra. Não por muito tempo. Em 1911 ingressa na Escola Internacional em Lisboa. O sistema de ensino é diferente. Facilitam-lhe um espaço que serve de oficina. Aprende por conta própria.
"Eu sou o resultado consciente da minha própria experiência"
O movimento artístico português necessita de inovação. Os artistas plásticos continuam a satisfazer os gostos de uma sociedade burguesa. O naturalismo predomina na arte. Os impressionistas não têm repercussões em Portugal. É um país limitado. Almada sabe-o. Há que dizê-lo.
Em 1913 publica o primeiro desenho n’A Sátira - é necessário agitar a mentalidade artística portuguesa. No mesmo ano faz a primeira exposição individual. São cerca de 90 desenhos.
Fernando Pessoa escreve uma crítica à exposição. Quando Almada o aborda, responde-lhe que não percebe nada de arte... Nasce a amizade.
Entretanto Almada não pára. Colabora em várias publicações. Faz ilustrações. Escreve a primeira poesia. Desenha o primeiro cartaz. Junta-se com outros artistas.
Em 1915 sai o primeiro número da revista ORPHEU. Algum escândalo
Júlio Dantas deprecia o trabalho. Reacções à inovação. Critica a publicidade feita à revista. Afirma não haver justificação para o sucesso. Diz que os autores são pessoas sem juízo.
A 21 de Outubro do mesmo ano estreia-se a peça Soror Mariana. O autor é Júlio Dantas. Almada vai agora reagir. Publica o Manifesto Anti-Dantas e por extenso. O manifesto não é apenas contra Dantas. É uma reacção contra uma geração tradicionalista, uma sociedade burguesa, um país limitado.
"... Basta PUM Basta!
Uma geração, que consente deixar-se representar por um Dantas é uma geração que nunca o foi. É um coio d’indigentes, d’indignos e de cegos! É uma resma de charlatães e de vendidos, e só pode parir abaixo de zero! Abaixo a geração!
Morra o Dantas, morra! PIM!
No fim assina: POETA D' ORPHEU, FUTURISTA E TUDO.
A I Guerra Mundial assola a Europa. Muitos artistas portugueses regressam a Portugal: Amadeu Sousa Cardoso, Guilherme Santa Rita, Eduardo Viana, são alguns deles. Outros são refugiados: Sonia e Robert Delaunay.
O Manifesto causa impacto nos meios artísticos. Afinal há alguém que ousa contestar a cultura instituída. Alguém que ousa criticar a sociedade, o País. Não se pode ficar ausente. É necessário intervir. Unir esforços para que haja uma acção artística. Um movimento que cresça...
Amadeu decide sair do isolamento em Manhufe. Em 1916 faz duas exposições em Lisboa e Porto. Almada escreve no prefácio da exposição:
"Amadeu de Sousa Cardoso é o documento conciso da Raça Portuguesa do séc. XX".
É o modernismo da arte portuguesa. O movimento não pára: nas letras e nas artes. Portugal está no século XX. A transformação é uma necessidade. É preciso agitar, por vezes provocando. Almada fá-lo no Ultimatum Futurista às Gerações Portuguesas do séc. XX:
É preciso criar a Pátria Portuguesa do séc. XX
O Povo completo será aquele que tiver reunido no seu máximo todas as qualidades e todos os defeitos. Coragem Portugueses, só vos faltam as qualidades.