Andanças de um Guerreiro da Luz

Autor: Maurílio Alves Neto

Contato: maurilioafa@brturbo.com

As complicações do mundo moderno em virtude da globalização, sinalizam que a humanidade está caminhando para o caos total, obrigando todos a um questionamento sobre as coisas divinas. Em minhas reflexões pessoais constato então, que, como filho de uma único pai, criado a imagem e semelhança do mesmo, só posso ser mesmo uma centelha divina, irmão de estrelas e árvores, desaguando em um contexto universal, que por sua vez engloba um montão de coisas, tais como, virtude e defeito; perfeição e imperfeição; ódio e perdão e assim por diante. Deixando isso de lado, atenho-me ao que realmente interessa, pois nessa confusa e incerta caminhada pela vida, o importante é sentir-se útil e verificar que, apesar dos pesares, não foi em vão estar aqui e ter contribuído positivamente à favor de uma causa maior, o amor ao próximo.
Sem um pingo de pretensão, vaidade ou egocentrismo, considero-me um simples mortal e pecador por excelência, porém com uma visão muito ampla do que seja o amor universal. Alguém cheio de virtudes já havia me ensinado, mais ou menos assim: "Ainda que eu falasse todas as línguas dos homens e dos próprios anjos, se eu não tiver caridade, serei como o bronze que soa e um címbalo que retine; ainda quando tivesse o dom da profecia, que penetrasse todos os mistérios, e tivesse perfeita ciência de todas as coisas; ainda quando tivesse a fé possível, até o ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, nada sou. E, quando houver distribuído os meus bens para alimentar os pobres e houvesse entregado meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, tudo isso de nada me serviria".
Não me considero uma pessoa comum e tenho consciência de que vim realizar alguma missão na terra, claro, sem a explicação Freudiana, pois na realidade, sem sentimento de superioridade, considero-me, por mérito próprio e divino, um aprendiz de guerreiro da luz. Sendo assim e já que tentei me explicar, contarei um pouco sobre algumas de minhas peripécias e traquinagens pelo orbe terráqueo. Primeiramente, minhas qualificações. Fui engraxate, vendedor de guloseimas, aprendiz de torneiro mecânico, vendedor de tecidos, exímio jogador de futebol, contabilista, pioneiro em Brasília no ramo de vendas de madeira, estudante universitário na área de Ciências Humanas e Letras, Fiscal de Tributos Estaduais, aposentado e aprendiz de tudo. Agora as molecagens em minhas andanças, tudo no bom sentido. Inúmeras vezes coloquei minha vida em risco em defesa de seres humanos. Já recebi balaços que não me atingiram para salvar um amigo, que correu e me deixou sozinho enfrentando os marginais, mas que continua vivo. Já resgatei pessoas que estavam se afogando em rios, que, com minha intervenção, salvaram-se todas e estão vivas até hoje. Já socorri pessoas estranhas atropeladas por outras pessoas no trânsito, levando-as para hospitais, sem ser rico e sempre ter sido pessoa de pouco poder aquisitivo.
Certa vez, no estado de Mato Grosso, eu estava num templo religioso que desabou por causa de uma tempestade forte, quando se machucaram muitas pessoas, as quais então foram todas levadas por mim em meu automóvel para serem medicadas, fazendo duas viagens nesse sentido, sendo que o meu veículo era o mais velho dos que estavam no pátio daquele templo. Colaborei muitíssimo para ajudar construir um abrigo de velhos no estado de Goiás, nas margens do rio Araguaia que hoje abriga idosos oriundos de vários municípios. Em certa ocasião, viajava num ônibus que ia ser assaltado por treis marginais que estavam dentro do mesmo, que possuiam um automóvel escondido no mato em determinado trecho, para quando efetivassem o assalto, servisse para empreender fuga com o produto do roubo.
Percebendo a intenção dos fora da lei, entrei em ação, desembarcando-me numa cidade desconhecida por mim, localizada na metade do trajeto, quando então desta cidade acionei, via telefone, a polícia da cidade mais próxima por onde passaria o veículo, que agiu com rapidez prendendo os assaltantes, evitando-se assim que aquele ônibus, no qual viajava gente comum, empresários, fazendeiros e várias crianças, fosse efetivamente dilapidado pelos larápios. Nunca me omiti na ajuda ao próximo. Falando nisso, lembro-me ainda de quando era gerente de uma madeireira na cidade de Goiânia, onde aconteceu o seguinte fato: era um sábado e estava no escritório nos fundos do imóvel, fazendo vales para os funcionários, quando escutamos um barulho forte vindo da entrada da madeireira. Corremos todos para a parte da frente e de cara vimos um senhor caído todo machucado em virtude de uma pilha de postes de aroeira ter desabado em cima dele.
Como não conhecíamos aquele cidadão, pensamos até na hipótese de roubo, mas logo constatamos que aquele homem simples exercia a profissão de carroceiro e entrou por engano na nossa madeireira, pensando estar numa outra madeireira, onde iria fazer o carreto de um poste. Diante desse impasse, telefonei para meu chefe imediato, informando-lhe do ocorrido, quando então ele me disse, não faça nada, não dê assistência ao desgraçado e faça uma ocorrência policial. Enquanto o carroceiro gemia de dor por ter quebrado a bacia e uma de suas pernas. Ignorando a ordem recebida de meu superior, pedi a um funcionário que arranjasse um táxi para eu levar o homem machucado em algum hospital.
Dito e feito, passamos por vários hospitais e não conseguia que os médicos fizessem o tratamento no carroceiro, pois na época (1.964) o custo do tratamento era muito dispendioso e eles solicitavam 1/3 do valor cobrado para poderem realizar a cirurgia que o caso necessitava. Um pouco que meio desiludido, me dirigi ao Hospital Geral, que foi onde conseguimos, com a união de várias pessoas, inclusive médicos, a quantia necessária para realizar o tratamento naquele senhor. Seus familiares acharam inclusive que eu o estava ajudando por medo deles procurarem a justiça. Quando o rapaz já estava melhor recuperado, reuni-me com seus familiares e os coloquei ao par da situação, afirmando-lhes de que contrariara as ordens de meus chefe, que eram não dar ajuda nenhuma, mas que optara por ajudá-lo por ter ficado com pena dele e que a partir daquela data eu não poderia mais ajudá-lo em nada.
Visitei inúmeras vezes os presídios em várias cidades e em outros momentos, sempre para levar alguma coisa útil aos presos, nem que fosse alguma oração. Sou amigo dos índios Xavantes e sempre os ajudei em suas dificuldades. Tenho inclusive um compadre e comadre dessa etnia, cuja amizade com toda a tribo me dá muito orgulho, principalmente por considerá-los os brasileiros mais autênticos e tendo muito a ensinar aos não índios.
Certa vez, encontrava-me no centro da capital Mato-grossense, Cuiabá, precisamente na Av. Getulio Vargas, bem próximo à Praínha, quando vi um velhinho bem vestido, trajando o seu terno de linho branco, ser cercado de todos os lados por gente das mais estranhas possíveis. Não sabia quem era e do que se tratava. Imediatamente coloquei-me perto daquele velhinho, tentando protegê-lo de quaisquer ameaças que pudesse sofrer por parte de estranhos. Assumi posição de combate, girando ao redor daquele cidadão indefeso. Temia que fosse um seqüestro, pois as pessoas se aproximavam com atitudes suspeitas. Lembro de ter dito àquele senhor que ficasse calmo que nada iria lhe acontecer. Foi um momento tenso, porém ficando ainda mais tenso, quando um automóvel se aproximou pela contramão, parando perto de nós... pensei que teria que agir com a rapidez de um "Bruce Lee".
Ledo engano! Do automóvel desceu uma bela donzela, que ao notar aquele estado de animosidade, foi logo me dizendo: espera ai senhor! Está havendo um equívoco! Eu disse só se for da sua parte, não se aproxime do cidadão! Foi ai que ela disse, deixe-me explicar: Estamos participando de uma gincana e o cidadão que o senhor está protegendo é Dr. Diógenes, pessoa importante e conhecidíssima em Cuiabá, cuja missão de minha equipe é levá-lo até a TV Centro América. Disse-lhe, olhe moça, não conversei ainda com este senhor, mas ele só irá se ele quiser. Na marra ele não irá mesmo, entendeu? Não adianta tentarem.
Depois de recuperado do susto, certifiquei-me da veracidade da gincana e como o Dr. Diógenes se prontificara em atender aquele pessoal, indo à TV Centro América, dei o caso por encerrado, ficando agradecido de ter desempenhado bem o papel de anjo guardião naquele dia. Resumindo e finalizando, fiquei um pouco indignado por ter agido sozinho, diante dos olhares passíveis de alguns de meus amigos que estavam próximos, mas que, pelo jeito, não moveriam uma palha sequer para nos socorrer, caso fosse preciso. Por isso e por outros fatores, considero-me diferente dos terráqueos comuns, em gênero, grau e número. Qualquer hora dessas contarei mais alguns casos verídicos, como esses, que sempre pautaram minha existência e de fácil comprovação, servindo para sustentar minha afirmação inicial. Fui !!!!!!!... Macktub!

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