Esperando Léo

Autora: Luiza Freixinho

Contato: e.freixinho@uol.com.br

Minha mãe me odiava.
Sempre senti desde a primeira percepção da realidade de viver.
Nunca escondeu de ninguém; o desprezo, o horror que tinha da minha pessoa. (Mas não estou aqui para falar disso. Estou esperando Léo)
Tinha uma babá de nome Dalva que me trancava num armário da sala lá no hemisfério norte e minha mãe nunca acreditava que ficava no escuro, no armário, por longas horas.
Talvez por eu ter esta cara de polonesa, estes olhos verdes puxados, os cabelos louros e difíceis – ela não gostava de mim.
Era muito aristocrática – branquíssima, nunca viu o sol, os cabelos ruivos e a cara de Ingrid Bergman; mesmo assim me detestava. (Mas não estou aqui para falar disso. Estou esperando Léo)
Uma vez já no sul do Brasil brasileiro, jogou em cima de mim um cinzeiro de cristal maior do que eu. Consegui driblar a morte pela primeira vez.
Depois me ameaçou com uma tesoura aberta e neste dia duvidei que fosse escapar pois fiquei paradinha, como filha obediente, mas ela me poupou e chorou. (Mas não estou aqui para falar disso. Estou esperando Léo)
Quando morreu na minha frente vítima de si própria sai correndo e pedi socorro. Debalde. Mas não consegui ir a seu enterro nem vê-la no caixão. (Mas não estou aqui para falar disso. Estou esperando Léo)
Quem sabe se esta espera possa me decifrar.

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