Terapia da Cozinha

Pergunta: Informações sobre o manifesto comunista.

Manifesto comunista (1848) - Manual de combate
Há 150 anos um jovem filósofo previa o futuro: os proletários iam derrubar a burguesia e instaurar a sociedade sem classes. MANIFEST der kommunistischen Partei. Foi assim que Karl Marx baptizou a primeira exposição da sua doutrina socialista, publicada em Londres há 150 anos (Janeiro de 1848). Aos 29 anos, Marx, coadjuvado por Friedrich Engels, tinha estruturado uma ideia que, tendo por base o pensamento de Hegel (1770-1831) - nomeadamente no que diz respeito à dialéctica e à filosofia da história -, ia muito mais longe no que diz respeito à doutrina social. Marx acreditava no conceito hegeliano do fim da história e previu-a como uma «sociedade sem classes», a qual resultaria de uma espécie de luta final entre as únicas duas classes que restavam com o advento do capitalismo - o proletariado e a burguesia. O marxismo preconizava o derrube do capitalismo, corroído por crises cíclicas cada vez mais graves e o triunfo do proletariado que fundaria um mundo novo, sem classes e sem «propriedade privada».
O Manifesto Comunista, uma das obras mais vendidas e traduzidas no mundo, era, na verdade, a declaração de princípios e objectivos da Liga Comunista, uma organização basicamente formada por exilados alemães. Num congresso da Liga, no final de 1847, em Bruxelas, Marx comprometeu-se a escrever os princípios do que aí defendera. E, embora seja ele, em seis semanas, a concluir a obra, esta é assinada em conjunto com Engels, seu parceiro para toda a vida.
«Um espectro assola a Europa - o espectro do comunismo», tal é a primeira frase do pequeno livro de 12 mil palavras, dividido em quatro secções e que se tornou numa autêntica «bíblia» do marxismo. Na primeira parte, Marx define a luta de classes como o verdadeiro motor da história - «A história de toda a sociedade é a história da luta de classes». Assim, a sociedade de há 150 anos é caracterizada como um palco para a dramática luta entre a burguesia capitalista e o proletariado, constituído por «aqueles que nada têm a perder». Esta classe operária, cujo número e consciência política aumentariam cada vez mais, acabaria por, inevitavelmente, fazer a revolução e derrubar a burguesia, instituindo um novo sistema político. «Com o desenvolvimento da grande indústria (...) a burguesia produz antes de mais o seu próprio coveiro. O seu declínio e a vitória do proletariado são igualmente inevitáveis.»
Na parte seguinte, Marx define os comunistas como a vanguarda do proletariado e os seus aliados naturais. Aqueles que têm por missão «acelerar a história», já que a vitória da classe operária seria inevitável. Depois da conquista do poder, a contradição entre a propriedade privada e a produção colectiva deixaria de existir, uma vez que a propriedade passaria para as mãos do Estado, colectivizando-se. Ou seja, para as mãos da classe então dominante, o proletariado. Como os meios de produção seriam da comunidade, as distinções de classe iriam gradualmente desaparecer.
Na terceira parte do livro, Marx critica as restantes perspectivas socialistas, que considera utópicas. Detentor de uma formidável capacidade polémica, o fundador do que ele considerava ser o «socialismo científico», ataca os brandos costumes do socialismo humanista ou do sindicalismo inglês com frases como esta: «O socialismo cristão é apenas a água benta com que o padre abençoa a irritação do aristocrata.»
Na última parte da obra, Marx define a táctica comunista para atingir os objectivos atrás expostos. E não deixa margem para dúvidas sobre o modo como os comunistas devem agir: «Os fins só podem ser alcançados pelo derrube violento de toda a ordem social.» Nesse sentido, às classes dominantes, ou seja, à burguesia, nada mais restava senão tentar adiar a revolução inevitável. Porque os proletários nada teriam a perder «a não ser as suas cadeias». E é com o célebre apelo, «Proletários de todo o Mundo - Uni-vos», que a obra termina.
Sobre a influência de Marx e do seu manifesto na história do Mundo, quase nem é preciso hoje falar. Em seu nome se fizeram a revolução russa, a revolução chinesa e todas as revoluções que se reclamaram do socialismo. Enormes esperanças numa sociedade mais justa e solidária mobilizaram homens e mulheres em todo o mundo. Inúmeros intelectuais adeririam ao marxismo, no séc. XX, utilizando-o como bandeira da luta pela liberdade e contra as mais diversas tiranias.
Mas, em nome da sociedade sem classes, ou da inevitabilidade histórica de um futuro risonho, cometeram-se também inúmeros crimes, desde a sangria estalinista ao horror de Pol Pot, no Cambodja. Cem milhões de mortos é o resultado desses crimes, segundo a estimativa de um conjunto de historiadores franceses coordenados por Stéphane Courtois, no Livro Negro do Comunismo, editado por altura dos 80 anos da revolução russa de 1917. Qual a responsabilidade de Marx em tudo isto? Bem, essa é uma discussão que ainda não acabou...
Texto de Henrique Monteiro


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