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O mar brasileiro

O mar brasileiro é coisa linda. Ora azul, ora verde, belo cartão postal, mas... Se olhar atentamente... Se meter um zoom na câmera. Que cor é essa? É o preto do ouro liquido. Após o desmoronamento da plataforma, o vazamento do cargueiro, a ruptura do duto. Mas não tem problema não. Está tudo sob controle. A mancha de cem quilômetros não vai parar na praia. O vento sopra para o alto mar, em águas internacionais, não há mais problemas para ninguém. Deixa a natureza reciclar. Depois fazem propaganda para elevar o consumo de peixes, mas o que vemos é só o preço aumentar. É que está cada vez mais difícil de cardumes encontrar. Porque será?
As nossas praias são as mais lindas. Areia clara, areia fofa. Ondas tranqüilas que brincam com as crianças. Encosta verde descendo pelas paredes rochosas. Regato de água doce descendo da serra, misturando-se ao sal do mar, criando um habitat dos mais vivos desse magnífico mundo natural. Mas e aquele lixo todo deixado pela população? E aquela multidão de guarda sol patrocinado por fabrica de cerveja. E aquela construção de madeira que se diz barzinho de praia. E aqueles banheiros... Para onde leva tudo aquilo? O regato já não é mais doce, e com certeza irá contaminar o ser vivo que nele tocar. Isso não é problema, afinal, banhar, nem pensar. Uma foto para no facebook postar. Hoje, nossas praias são irreais, não passam de belos cartões postais.
O Brasil é um país cheio de ilhas, ilhotas, penínsulas. Isoladas do continente têm tudo para serem santuários da natureza. E quase sempre são... Propriedade particular. O simples sujeito homem cidadão lá não pode parar. Aproveitar as delícias desses paraísos tropicais, e também sujar, destruir, depredar, invadir... Porque alguém já invadiu. E quem foi? O empresário, o político, o militar. Mas não se preocupe, alugando uma nau, pode passar perto, fotografar. Em algum lugar pode até ancorar, mas em quinze minutos zarpar. Tudo bem, pelo menos essa natureza não irá acabar.
Quase todos os estados do país disponibilizam portos para alimentar a economia. Todos eles bem antiquados. Como tudo no Brasil, feito nas coxas. Ajeitando cada necessidade como se pode, com o jeitinho brasileiro de fingir que faz, e acaba fazendo quando a ordem vem de cima. Daí o desperdício, a burocracia, a deficiência de infraestrutura, a falta de condição de trabalho. É difícil de entender como um país com as características geográficas que o Brasil tem, é tão ineficiente na vazão de seus produtos para o exterior. Sequer há uma marinha mercante brasileira. Sequer há estaleiros em produção. O Brasil, hoje, não passa de um nanico vestido em roupa de gente grande.
O mar brasileiro, e tudo que se refere a ele, é de extrema importância. Aliás, não é mar, é um oceano, é o temido oceano atlântico. Caminho para o fim do mundo, para os abismos mais profundos. Quem poderia pensar, nos tempos de Colombo, que houvesse algo mais temível, capaz de destruir o infinito atlântico. Pois bem, o sujeito homem cidadão, quando se junta não tem para ninguém. Bota para quebrar, arrebentar, destruir... Parabéns! Depois do oceano, não há mais nada. Só restará mesmo marte para recomeçar a acabar.

Autor: Arnold Gonçalves


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