Pergunta: Informações sobre Max Weber.

Max Weber (1864 - 1930) - Marxismo
O choque de estruturas intelectuais diferentes, muitas vezes antagônicas, ao lado dos trabalhos de intelectuais socialistas de fora das universidades, como Kautsky, Eduard Bernstein e Franz Mehring criavam tensão desafiadora, à qual Weber não deixou de reagir. Em sua obra, o desfio mais marcante que enfrentou foi alimentado por Marx, fonte do mais conseqüente debate teórico e metodológico nas ciências sociais contemporâneas. Não disposto a rejeitar o materialismo histórico, Weber optou por utilizar esse método como princípio heurístico.
A oposição principal de Weber ao marxismo consiste em negar ao método de Marx a função de fonte de explicações monocausais para fenômenos sociais universais. Considera-se que, afastada a questão de se Weber compreendia ou não a redução causal proposta no pensamento dialético de Marx, tal abordagem resultou extremamente frutífera nas ciências sociais.
Com base em pressupostos pluricausais, Weber explicita a questão das relações entre a super e a infra-estrutura social. O mesmo argumento de causalidade múltipla levou-o a elaborar um conceito de classe social baseado em critérios do mercado econômico, e de sua dominação por uma política de controle monopolista. Embora sem negar a existência dos conflitos de classes, não os considerou como elemento único que leva à transformação social; afirmou que, quando tal conflito se verifica, é acompanhado por outros fatores, favoráveis ao rompimento das ordenações existentes na vida das sociedades.
Refletindo sobre a aplicação do materialismo de Marx às estruturas econômicas, Weber encontrou um padrão para tratar outras estruturas, principalmente as burocracias políticas e militares. A ênfase de Marx na separação do trabalhador assalariado dos meios de produção econômica aparece, na perspectiva weberiana, como tendência universal do capitalismo. Seria, enfim, inevitável a ruptura, como último resultado da implantação da ordem burocrática no mundo moderno.
Posição Teórica
O grande debate de Weber com as Ideias de Marx é caracterizado por certa ambigüidade. De um lado, foi Weber o único professor universitário alemão de sua época que defendeu o marxismo. Por outro lado, sua teoria, que atribui ao espírito religioso do calvinismo a primazia na formação da mentalidade econômica do capitalismo, é rigorosamente antimaterialista. Também insiste Weber no fato de que a ação individual é a unidade analítica a ser tomada como elemento essencial para a reflexão sociológica. Tal ponto de partida o expôs ao perigo de um subjetivismo radical, comum na tradição utilitarista; Weber soube, porém, evita-lo, propondo que o significado de tal ação deveria ser compreendido e interpretado no contexto histórico em que se verificava.
Rejeitou de modo claro uma orientação unilateralmente historicista que não fornecesse padrão sistemático para uma análise científica. Para ele, o comportamento individual verificável constituía-se na ação social, objeto de estudo da sociologia e da história. A característica fundamental da ação social, para essas ciências, seria a da orientação por um significado mentalizado pelo agente, que refere o sujeito ao contexto onde atua no tempo e no espaço. O debate a respeito da posição teórica de Weber ainda continua, apontando-lhe influências kantianas, racionalistas, nominalistas e outras. Mas é indubitável a originalidade do pensamento weberiano
Originalidade
Sua contribuição transcende escolas e correntes de pensamento filosófico e social porque a singularidade de suas Ideias não permite identificação com as existentes em sua época. Todos os que tentam interpreta-lo fora de suas premissas, esbarram em equívocos paradoxais. Como político, usava o partido liberal para combater o kaiser; ao negar Marx, concede-lhe a dignidade que nenhum outro membro da elite intelectual alemã lhe quis dar; como ateu, valoriza extremamente o papel das crenças religiosas; como nominalista, pratica a construção sistemática de conceitos científicos para a sociologia; como racionalista teoriza sobre tipos de ação emocional, concedendo papel importante a esta tanto quanto às ações racionais; como herdeiro de hegelianismo, nega o absoluto e utiliza a dialética de modo autônomo.
Outros traços apresentados em sua contribuição não são suficientes para defini-lo de modo claro. Muitas vezes sua teoria é vista como subjetivista, quando sua posição quanto à objetividade é claramente manifesta. Outras vezes á chamado de psicologista, quando suas opiniões a respeito das descobertas de Freud são muito cépticas. No entanto, sua teoria oferece importante paralelo entre a sociologia e a psicologia, como respeito ao fato de a ação de um ego estar referida a um alter, conforme mostra Talcott Parsons, ao associa-lo a Freud.
Como empiricista, Weber é historicista confesso. Defendendo basicamente a posição de construir uma razão sociológica autônoma, cuja teoria e método apresentassem eficácia na interpretação de fenômenos sociais, Weber conseguiu, através dela, questionar não só as Ideias preconcebidas a respeito do mundo, como a própria filosofia de seu tempo.
Como filósofo foi Weber político e como político foi cientista. Mas não teve filosofia sistemática: seu espírito era filosófico. A empresa intelectual de Weber, antes de tudo, foi surpreender a sociedade tal como é pensada pelos agentes individuais, e acompanhar a maneira como seus significados mentalizados se modificavam no tempo. Realizou seu empreendimento, criando uma crítica da razão sociológica.
Contribuições Teóricas
Weber chamou seu método de "construção de tipos ideais". Partindo da ação social, categoria construída como unidade analítica básica, constrói unidades lógicas mais abrangentes, sempre apontando tipologias similares, implícita ou explicitamente, em cada unidade. Mostra que a ação social é mutuamente referida por significados comuns e compõe o conceito de relação social, tratando a seguir do conceito de associação. Nas associações, destaca o caráter ordenado, um contexto organizado que serve como referência para os agentes individuais dele participantes. De modo análogo à ação social, as associações desempenham atividades sociais orientadas no sentido dos fins determinados pela ordem em que têm existência.
Refinando o conceito de ordem, elabora mais dois outros com ele relacionados: o de validez e o de legitimidade, com vistas a demonstrar o caráter de dominação de todas as associações humanas. Desse modo, explicita uma tipologia de autoridade, sua mais divulgada contribuição para a sociologia e a ciência política. Contudo, enquanto tal tipologia reforça paradigmas com elementos enfatizados em uma dimenção diacrônica, sua teoria mostra a possibilidade de se surpreenderem sincronicamente associações com dominações de natureza diversas. Assim sendo, associações religiosas, militares, econômicas e políticas (partidos e Estado) são sistematicamente tratadas por Weber, com o objeto de apontar elementos estruturais de dominação dentro de uma ordem institucional global.
Weber considera que uma progressiva tendência á racionalização se constitui no princípio mais geral da transformação social. Tal tendência se expressa em uma reorganização dos significados internalizados nos agentes sociais, permitindo a implantação de ordens sucessivas. Desse modo, a realidade histórica é pontilhada de descontinuidades. Nessa perspectiva, a história apresenta ciclos totais, interrompidos por movimentos de caráter excepcional, chamado por ele de carismáticos. Em torno de uma oscilação entre o cotidiano e o extracotidiano - a rotina e o carisma -, compões um padrão de transformação multilinear, conforme demonstra a vinculação sistemática de todos os seus estudos sobre a religião e sobre a burocratização que chega a substituí-la.
Apesar de seus escritos captarem inúmeros paradoxos, na tentativa de interpretar os múltiplos aspectos da realidade social, Weber consegue tratar dialeticamente elementos antagônicos, tanto na teoria como na filosofia da história. Desse modo, ao nível da teoria, a ação social se funde na ordem institucional e, ao nível de sua concepção histórica, o personalismo excepcional do carisma se funde na impessoalidade da organização burocrática. O estado de liminaridade que Weber captou nas situações de transição social, bem como seus aspectos sobrenaturais, integram atualmente temas de investigações da maior importância nas ciências sociais. O debate sobre as teorias de Weber continua.


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