Pergunta: Como eu poderia aplicar o estruturalismo ao ensino da língua portuguesa?

No Estruturalismo, a língua é definida como sendo composta por unidades estruturais que representam um determinado nível linguístico: fonético, fonológico, morfológico, sintático. Esses elementos da língua estão conectados e inter relacionados. Assim, para a linguística estrutural, a língua é um sistema que pode ser organizado e reorganizado conforme seus padrões estruturais. Em tal modelo estrutural de organização linguística, aprender uma língua significa ter domínio das unidades estruturais e das regras para a combinação desses elementos, ou seja, de gramática.
O estruturalismo na América do Norte desenvolveu-se entre as décadas de 1920/1950 e foi marcado pela grande necessidade de os lingüistas descreverem as línguas indígenas ágrafas que estavam desaparecendo do continente. Dessa forma, a preocupação dessa vertente estruturalista residiu na descrição lingüística com base no pressuposto de que toda língua tem uma gramática própria. Ao contrário das gramáticas tradicionais, que postulam um conjunto de regras a serem seguidas, a gramática estrutural apresenta uma relação de estruturas. Nessa perspectiva, a gramática estrutural vem suprir certos problemas deixados pela tradição: descreve a língua em uso de determinadas comunidades em uma época também determinada, além de descrever a língua falada que o aluno utiliza como instrumento de comunicação.
O estruturalismo e os seus posteriores desenvolvimentos mudaram a cara dos cursos, faculdades e institutos de ensino de Letras no Brasil, sobretudo nos idos das décadas de 1950/1960, quando essa corrente alcançou adeptos em todos os campos dos estudos da linguagem. As licenciaturas começaram a operar com novas visões de língua e de linguagem, antes ancoradas em vertentes que, em maior ou menor grau, conduziam os estudos em desenvolvimento. Em uma perspectiva, ainda vigia a tradição greco-romana, que concebia a linguagem como objeto da razão, reflexo do pensamento e, portanto, fenômeno a ser estudado independentemente de qualquer refêrencia a línguas específicas, visto que os princípios de análise poderiam ser aplicados a qualquer língua em particular.
As condições essenciais para que uma poética seja estrutural são: recusa da descrição concreta das obras, eleição de organizações abstratas anteriores, sua manifestação em textos individuais, a correta noção de sistema, a condução da análise até as unidades elementares do discurso e, por fim, a escolha explícita dos processos. Considere-se em particular a noção de que a poética deve se empenhar na decomposição do discurso literário até suas menores unidades. Do ponto de vista prático, ao menos no que diz respeito ao ensino da literatura, esta última noção tem-se mostrado útil, na medida em que facilita a apresentação imediata de qualquer romance, sem necessariamente afastá-lo das abstrações da estrutura do discurso narrativo.
Tomando como exemplo o texto de José de Alencar: Iracema. Quem leu esse livro sabe que se trata de uma narrativa com diversos movimentos entendidos como fábula. Seguindo o ponto de vista estrutural, pode ser descrito da seguinte maneira: chega ao continente americano um explorador europeu, que se une a uma virgem com funções sagradas em sua tribo. Essa união quebra um tabu. A moça paga este ultraje com a morte. Deixa, no entanto, um filho mestiço, que implanta a civilização européia na região.
Outro exemplo, muito usado no ensino de língua estrangeira pode-se exemplificar através de alguns exercícios que nos lembram do método estruturalista. Usando-se a estrutura “how often” utilizada em inglês para perguntarmos com que frequência uma atividade é realizada. Ao aluno é fornecida uma pergunta base como exemplo. A partir dessa pergunta, o aluno deve formular novas perguntas. Para tanto, basta que ele faça substituições, de modo a constituir novas perguntas. A ideia vigente é a de que a partir do reforço em seguir o modelo, o aluno seria capaz de uma correta apropriação da língua. O próprio uso dos advérbios de frequência também não aparece em um quadro com explicações gramaticais. O exercício pode servir ainda para ser praticado em forma de diálogo, entretanto, o aluno deve se restringir às perguntas que lhe são dadas. Esse tipo de atividade pleiteia a prática de padrões ou de estruturas, por isso, não tem pretensões a estabelecer longa comunicação. Cabe ressaltar que neste exercício o aluno já dispõe de um pouco mais de autonomia no que se refere às respostas.

Fontes:
BRAHIM, Adriana Cristina Sambugaro de Mattos. Do estruturalismo à concepção discursiva de língua: os impactos na pedagogia de leitura em língua estrangeira. Revista Intersaberes vol. 8, n.16, p.108-130 - jul. – dez. 2013.
CONEJO, Cássia Rita. O estruturalismo e o ensino das línguas. CELLI – Colóquio de estudos linguísticos e literários. 3, Maringá, p. 1233-1244. 2009.
MENDES, Edleise. O conceito de língua em perspectiva histórica: reflexos no ensino e na formação de professores de português. Salvador: Universidade Federal da Bahia - EDUFBA, pp. 667-678. 2012. .
PERINE, Cristiane Manzan. Reflexões acerca dos traços estruturalistas no ensino de línguas estrangeiras. REVELLI – Revista de Educação, Linguagem e Literatura da UEG-Inhumas – v. 4, n. 2 – p. 102-122 – outubro de 2012 – wwww.ueg.inhumas.com/revelli
TEIXEIRA, Ivan. Estruturalismo: Fortuna Crítica 4 – Revista CULT. Out. 1996.

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