Contos dos bosques de Curitiba

Nelsinho encostou a porta, encurralada a moça no canto: 
– É hoje. 
Roçou a sombra do lábio, a espinha na asa do nariz. Ela voltou-lhe a face: beijou-a ferozmente na boca. 
Fechou a porta, empurrando-a com o pé. Certa que iriam ficar nos toques e blandícias, pendurou-se ao seu pescoço. Pousou a mão no peitinho, ela se encolheu: vergonha do seio pequeno? Era dona experiente, sem provocá-la não conseguia nada:
– Duvido seja carne – é borracha! 
– Não faça isso. Vem gente. – Suspirosa, pesando cada vez mais no seu ombro. – Se vem gente? 
O herói estendeu a mão, deu volta à chave: 
– Vem não. 
Arquejante, estalou os dois colchetes, ergueu-lhe a blusa. Ela que baixou o sutiã. Surgiram dois bocados cor-de-rosa: 
– Nunca vi coisinha mais linda! 
Ai, mãezinha do céu, aquilo sim era seio – dois de uma vez, sem mentira. Se apertasse o biquinho espirrava leite? 
Brasão de família, ela confidenciou que o da mãe era mais bonito. 
– Depressa. Vem gente. 
Risinho abafado, queixou-se de cócega. 
– Que maravilha – a mão cheia, ele sopesava o fruto. – Ó perfeição da natureza! 
Ares de distraída, olho ausente no teto: 
– Sou nervosa. Hoje estou fria. 
– Como é que você gosta? 
– Sem inspiração eu não posso. 
– Ah, é...
Beijava-a raivoso, lábio inchado de mordida. Ela titilou a língua no céu da boca. O herói, sem sair do lugar, descreveu duplo salto mortal. 
Deslizou a mão no joelho, debaixo da saia cinza. Magra, usava anágua. Assustadiça, arregalou o olho: 
– Não. Não. Aqui não. 
– Seja boba. 
Conversinha em sussurrro, na ânsia louca do mais cobiçado prêmio da terra. 
– Querido, pode vir alguém. 
Na última resistência, vencida pela surpresa. Levantou-lhe a anágua e viu – o que ele viu? Babados, brincos e rendas da ilha da Madeira. 
– Ai, você me machuca. 
Da vacina contra varíola, queixou-se de íngua no braço. 
– Já faço benzedura de íngua. 
A bela soltou o botão da saia e correu o fecho. Agora de blusa e anágua. Sem blusa. Sem anágua, desfeita aos pés. Magrinha e branca, dava pena – deitou-a no sofá de couro vermelho. 
– Espere, meu bem. 
Ela derrubou o sapato, raspando na beirada o calcanhar. De joelho no tapete, Nelsinho babujou-lhe o seio. 
– Me olhe. Abra o olho. 
Toda trêmula, escondeu o rosto no seu ombro: 
– Sinto vergonha. 
Gemido abafado de terror: 
– Tenha pena de mim! 
– Juro que . . . 
Quem me dera um espelho, uma almofada, um anel mágico. 
– . . . não faço mal. 
Sem inspiração, a bela enterrou-lhe a unha no pescoço: 
– Me beije. Ai, meu amor – e rilhando com fúria os dentes. – Ai, me beije.

Fonte: O vampiro de Curitiba - Dalton Trevisan (Compre e leia o livro, vale a pena)