O poeta na praça

A caminho de casa passo na praça do espaço cultural Raso da Catarina. Lugar aplausível, rodeado de arvores, jardins e quiosques. No centro, o glamoroso salão de convenções. Local de recepção artística e cultural. Ao lado um palco com arena e arquibancada ao ar livre, sob o holofote prateado da lua.
Vejo um banco vago, solitário, e ali me sento. Fico observando os transeuntes que vão, e que vem. Gente bem vestida, gente bonita, gente feia, gente maltrapilha, gente de todos os tipos e distintas classes sociais e culturais e gêneros.
Fico imaginando o que fazem o que sonham o que buscam. A perspectiva de conhecer a resposta me assusta. Quantas desilusões amorosas, insucessos profissionais e pessoais devem transitar por aqui mesclado aos “poucos” bem sucedidos? Pessoas disfarçando a tristeza numa mesa de bar, “afogando ás mágoas” como se diz, ou comemorando algum acontecimento especial, ou trivial, sabe se lá.
Vejo vendedores ambulantes vendendo CDs. DVDs misturar se com vendedores de sorvetes, vendedores de meias, cuecas, cintos e tantas e quantas coisas mais. “um ditoso império da pirataria” transitando em plena praça pública. Mas o que fazer, se esse é um meio de ludibriar o desemprego, suprir a falta de um trabalho formal com carteira assinada?... É isso ou bater carteira na praça.
Ao fundo, num recanto da praça ao lado de um jardim florido e multicor vejo um homem de meia idade, bem trajado, segurando uma pasta preta a sua mão esquerda enquanto a outra apresenta o seu produto. Posso ver que tratasse de livros, me aproximo para constatar a minha aguçada curiosidade. “verdade são livros, e de poesias”. Não contenho a euforia.
Aguçando os tímpanos pude ouvir quando ele disse ser escritor. Poeta que nas horas vagas tornavas se vendedor magnificente das suas introspecções, de seus poemas de sonhos líricos expostos nas folhas de papel off-set pólen dos livros de poesias. Ali eu pude constatar que era aquele cidadão, um poeta que trazia na virtude dos humildes, a nobreza de seus versos.
Bem vindo poeta. Bem vindo á praça. Bem vindo à cultura social e literária do Raso da Catarina.
Paulo Afonso – BA, 07 de outubro de 2015.